sexta-feira, 26 de outubro de 2012

6 weeks to OMG: acabei com meu corpo!

Já faz um tempo tinha ouvido falar da "dieta milagrosa" de Venice Fulton.

A primeira vez que ouvi, estava no supermercado, aguardando na fila, e duas senhoras comentavam: "Mas perde mesmo, viu? Você sooooooofre, fica com fome, mas vale a pena, porque tem resultado.".

O resultado prometido pelo autor (que chama Poul Khanna e utiliza Vince como seu pseudônimo) é um emagrecimento acelerado de até 10kg em 40 dias. Ainda que sem explicações científicas plausíveis e assumindo valores (porcentagens, inclusive) da "boca pra fora", o livro virou best seller, e carrega no seu próprio título uma excelente jogada de marketing (quem não quer ser a mulher mais bonita? Mais bonita que todas as suas amigas...).

Em um julgamento ácido, bastante particular, creio que o autor faz uso de pseudônimo como um avatar, criando um espaço público que pode falar o que bem quiser e, com muito sofrimento, provocar perda de peso (não necessariamente o emagrecimento) de muitas mulheres.

Acredito, realmente, que seja possível perder peso mediante a dieta proposta. Se manter em um período de inanição durante 40 dias não é o suficiente para matar, mas força o corpo a fazer uso dos estoques energéticos e, portanto, diminuir em tamanho (e em peso, já que "corpo pesa"). O problema é o que depois...

Para começo de conversa, fazer atividade física em jejum (no caso, sem café da manhã), não força o corpo a queimar mais gordura, estimula a queima de músculo. Diferente do que o autor prega, o corpo não é estúpido, e tem medo de morrer, portanto: em uma situação de stress metabólico (como a atividade física) que promove gasto de energia, se não houver carboidratos disponíveis (fonte principal para o gasto) a primeira escolha será o músculo e não a gordura. Para usar gordura como fonte de energia é preciso uma série de ativações próprias que, via de regra, não acontecem no jejum.

Se você não tem grana para pagar a conta de energia, você apaga a luz ou a vela? Pois bem, o corpo também. Se não há energia suficiente para sobreviver, do que será que o corpo se desfaz: do músculo que gasta energia, ou da gordura que é um estoque econômico? Claro que será o músculo...

Mas é verdade. O autor está certo. Se o objetivo é perder peso, é isso mesmo que tem que fazer. Músculo pesa 4 vezes mais do que a gordura. Se o que se perde é músculo, a perda de peso é, realmente mais intensa.

O que deixa de ser mencionado é que músculo gasta 8 vezes mais energia do que a gordura. Assim, se o que está sendo eliminado do corpo é o músculo, o gasto deste corpo será sensivelmente menor. É uma boa maneira de adiantar o envelhecimento e pisotear no metabolismo (todo mundo já culpa ele mesmo, não?).

Ademais, outras dicas como permanecer longos períodos em jejum e consumir calorias a baixo das necessidades diárias também são condutas que forçam a diminuição de "corpo" (por diminuir massa magra), mas não de gordura.

Ao final da dieta, 10kg mais leve, e com gasto energético de uma vovozinha, a pessoa está pronta para recuperar seu peso de volta, e com um detalhe: se antes ela tinha um metabolismo que lhe gastasse 1000 calorias por dia, hoje, com esta redução, não gastará tudo isso e, portanto, se comer o mesmo que comia antes, engordará (ou seja, não só ganhará peso, como este peso será de gordura, aquela mesma que não gasta energia para se manter no corpo). A troca foi "excelente": músculo por gordura.

Claro que não tive tempo (nem tão pouco paciência) para explicar isso às senhoras do supermercado. Acho que, novamente em um comentário bastante ácido,  algumas pessoas tem mesmo que sofrer muuuuuuuuuuuito fazendo dieta louca. É que, honestamente, é muito pior seguir um acompanhamento nutricional de qualidade, com um profissional que sabe do que fala, do que assumir a inanição por conta de um livro.

Vai que o profissional é bom mesmo, acerta na mão e te deixa sofrer menos... Qual a graça?

http://vogue.globo.com/beleza/6-weeks-to-omg-a-polemica-dieta-que-promete-eliminar-10kg-em-40-dias/


terça-feira, 25 de setembro de 2012

Fenômeno da Medida Certa.


Antes mesmo de domingo o desencanto já era previsto.

Após o "sucesso" do Medida Certa com os seus apresentadores sobrepeso, e o "sucesso" mais opaco do "medidinha certa" com crianças, a bola da vez é o Ronaldo Fenômeno. 

Antes de tudo, me desculpe, mas eu não acredito que um indivíduo de tantas posses e de tantas acessorias não tenha se dado ao trabalho de cuidar de uma desarmonia da tireoide. Não acho viável. 

De todo o modo, me sinto na responsabilidade de demonstrar meu descontentamento quanto ao mau uso do  nutricionista. Triste, muito triste. 

Educador físico, independentemente de sua especialização em nutrição em ortomolecular, em bioquímica ou em qualquer que seja a área de interesse, não pode - e isso é LEI - prescrever dieta. 

A dieta, segundo a lei que regulamenta as atribuições específicas do nutricionista assegura isso como responsabilidade do profissional que estudou isso durante os seus quatro anos de formação.

Mais ainda, fico um tanto desiludida quando vejo nutricionistas que se prestaram em participar do programa SABENDO e ASSUMINDO que as maiores orientações (as orientações "de base") serão de um educador físico. Pena...

Que fique claro, não menosprezo a educador físico, muito pelo contrário, acredito que suas orientações sejam de suma importância em um processo de reorganização de vida e emagrecimento mas, do mesmo modo que não cabe a mim prescrever atividades físicas, não cabe a eles prescrever dieta. 

... Ok. 

Vamos perceber o "Medida certa do Fenômeno" por outro lado - que talvez acalme os ânimos (ou os incendeie de vez!).

A Industria Cultural pressupõe uma "linha de montagem" de produtos culturais. Do mesmo modo que se faz para construir um carro, se faz para elaborar bens culturais, como filmes, novelas e, certamente, programas de televisão. 

A necessidade de "manter a forma", cultivar o corpo e, no limite do entendimento e do desejo ser saudável, são grandes anseios humanos (ou assim são cultivados). A fórmula do Medida Certa foi certeira: grande audiência e boa responsividade do público, de tal modo que vale ser "refeita". 

Novas roupagens deram a oportunidade de manter o investimento em uma fórmula que sabidamente seria bem aceita... 

Tudo bem. 

Será que está em contrato que ele deve manter a perda de peso após o término dos 3 meses? 
Para os apresentadores... bom, acho que nem preciso dizer que não aconteceu, não é mesmo? 




quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Horas na TV "dá" Diabetes!

Não, claro que não são as horas sentadinhos em frente da televisão que aumentam o risco do desenvolvimento da Diabetes tão pouco, como a própria manchete da matéria grita: "Horas de TV colocam mais açúcar e gordura na dieta das crianças, diz estudo."

Na realidade, o estudo referenciado nada mais fez do que colocar  números e incentivar a discussão de um assunto já velho conhecido: o consumo alimentar infantil e as práticas cotidianas sedentárias, principalmente daquelas de baixa renda (referindo-se ao que estudamos em saúde pública como transição nutricional). 

Crianças comem mais na frente da televisão e, justamente por estar em frente a televisão, fazem atividades cada vez mais "paradas". As escolhas alimentares, serão aquilo que é mais palatável e que uma adorada industria de alimentos pode oferecer de melhor: o resultado disso é a diminuição do consumo daquilo que "faz bem" é "natural" e, no limite do termo, "saudável". 

O que me espanta é o desencanto com a informação veiculada. Não é este o foco do estudo, ele não pretende dizer que a televisão é ruim - ainda que a publicidade não tire férias - mas sim, ressaltar o advento da transição nutricional, que deixa as camadas economicamente menos favorecidas mais gordinhas. Alerta para a educação nutricional e incentivo às escolhas alimentares adequadas, com orientação e adequação familiar. 

O que o estudo "diz" não é isso, e o que ele pretende "ensinar" não é sem importância visto que gastamos cifras exorbitantes (e, você e todos aqueles que pagam impostos) para o cuidado de pacientes acometidos pelos malefícios de uma alimentação inadequada. 

Pesquisa científica é importante. Mais ainda a sua divulgação. Façam-a com carinho e responsabilidade.

http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2012/08/24/horas-de-tv-colocam-mais-acucar-e-gordura-na-dieta-das-criancas-aponta-estudo.htm


sábado, 7 de julho de 2012

Cada profissional no seu quadrado!

Para o bem da saúde pública, expresso um esclarecimento:

Prescrição da dieta: atribuição médica, que constitui na definição da dieta, apresentando suas características gerais;

Prescrição dietética: atribuição EXCLUSIVA do nutricionista, que consiste no detalhamento da dieta, respeitando a prescrição da dieta, somado às considerações da avaliação nutricional;

Exemplificando... 

Prescrição da dieta: dieta específica para diabetes mellitus. 

Prescrição dietética: (a partir da anamnese nutricional, abarcando preferências e aversões, a rotina e os hábitos do indivíduo)
Desjejum - 1 copo de leite semi-desnatado;
                  2 fatias de pão de fôrma integral (grãos)
                  2 colheres (chá) de creme de ricota... blá, blá, blá...

Médico diz o que é, pois diagnóstico clínico é uma atribuição exclusiva da sua profissão, e nutricionista esmiúça a dieta a ser seguida. Nutricionista respeita a atribuição exclusiva do médico, e médico, respeita a atribuição exclusiva do nutricionista?

Os grande divulgadores de informação como a Rede Globo de Televisão e o seu programa de variedade Globo Repórter, respeitam a prescrição dietética como atribuição exclusiva do nutricionista? 

Só a título de curiosidade, em 23 de fevereiro de 2003, o Conselho Federal de Nutricionistas resolve, através da Resolução 304, a prescrição dietética como tal (http://www.saude.mg.gov.br/atos_normativos/legislacao-sanitaria/estabelecimentos-de-saude/exercicio-profissional/res_304.pdf
Teria mesmo entrado em vigor desde a data?


Para apreciar: 06/07/2012 - Globo Repórter apresenta os "alimentos que curam", com dietas "anti-TPM", prescritas pelo nutrólogo...



terça-feira, 3 de julho de 2012

Julgamento e responsabilidade.

Quando houvi pela primeira vez que "na contemporaneidade todo mundo tem voz", duvidei duramente. Acreditava que "a mídia" - ainda que não soubesse de fato "quem" ela seria - agia de modo imperativo e, por mais que não conhecesse as críticas frankfurtianas, via o espetáculo acontecer.

Já a tempos venho percebendo que a premissa está realmente correta...

A criação do meu blog foi uma tentativa de ter voz. Produzir um texto, editá-lo e publicá-lo não depende de nenhum julgamento além do meu próprio (e da minha consciência). A responsabilidade que um veículo de comunicação em masa tem compartilhada por entre seus redatores, editores e diretores é reduzida à minha coragem e vontade.

... o resultado? Medo!

Medo da informação que é veiculada. Medo da responsabilidade da exposição. Medo do impacto daquilo que se fala. Medo do medo de menos de colegas que também se aventuram em escrever sem considerar que, no universo do acesso á informação, não há como prever os ecos!

Fui alertada de um texto, escrito de modo bastante interessante, que aborda os benefícios da pimenta caiena. Logo pelo título, identifica-se a relação entre o vegetal e a possibilidade de "parar um infarto". No corpo do texto, são relacionados nomes de "doutores" que, através do uso de especiarias e ervas medicinais curam seus pacientes ha muito tempo... Mais adiante, dá-se uma explicação sucinta das Unidades de Calor próprias da pimenta caiena e uma "receita" de como estes "doutores" realizam o estímulo ao paciente que está sofrente (e uso o gerúndio de modo correto aqui) do infarto.

Pois bem.

Realmente, a pimenta caiena é um alimento de propriedades químicas exuberantes. Possui um elemento chamado de capsaicina, que é um potente antiinflamatório, protetor cardiovascular e que, sim, dependendo do uso, pode ser estimulante por promover vasoconstrição.

Ainda que, em nenhum momento seja dito para trocar os medicamentos comuns pelo uso de especiarias, o texto apresenta o "aval médico" e assegura o sucesso.

Informação é um bem preciso. A interpretação do que é dito não está reclusa às letras mas sim às expectativas e o conhecimento prévio de quem lê... Em tempos de grande facilidade na divulgação de informação, todo cuidado é pouco.





http://www.estoubeim.com/2010/12/pimenta-caiena-pode-parar-um-infarto.html?m=1

segunda-feira, 2 de julho de 2012

O milagre da sopa!

Ah, o inverno...

Época que o álibi para o ganho de peso é depositado na necessidade de esquentar o corpo e nas roupas que o cobrem com maior eficácia.

O consumo de calorias aumentado no inverno ainda não tem, como vimos na publicação anterior, ainda é controverso e são investigadas as reais causas e até mesmo a veracidade do fato.

Ainda que a temperatura não seja tão fiel como se espera, nesta época do ano é mais comum o consumo de sopas e, sim, elas são uma opção que, dependendo da sua composição, sacia e nutre.

A saciedade fica por conta dos peptídeos gástricos que são liberados frente a temperatura gástrica e também devido ao volume, visto que um alimento líquido se acomoda de modo mais preciso à cavidade gástrica e assim indica que ocorreu a alimentação.

De acordo com os ingredientes que compõe a sopa, é possível atingir uma importante redução de calorias, visto que se troca um prato de comida por um prato de verduras e legumes cozidos em água, realmente, qual a novidade nisso?

Dizer que o consumo de sopa no almoço e no jantar faz "você" perder 2kgs em 2 dias, ai sim surgem as controvérsias! Dizer para variar o cardápio para "não ficar monótono" e me oferecer um pão com queijo mais uma fruta no almoço e uma sopa no jantar é digno de frustração.

Por que será que, para falar de emagrecimento precisamos utilizar os termos "enxugue" ou "seque" e destacar números em um tempo record?

Composição corporal é saúde, o corpo não é "vestido" como se usa camisa, nem tão pouco, se escolhe quantos quilos se perde como escolhemos quantos dedos serão aparados do cabelo!

É preciso que alguém explique aos redatores de matérias como esta que não existe "sob medida" quando a informação está sendo veiculada para o público em geral. As pessoas são diferentes.

Espero que a colega que emprestou seu nome a matéria não tenha ainda lido o que fizeram com a suas palavras...



http://boaforma.abril.com.br/dieta/tipos-de-dieta-dietas-com-sopas/dieta-sopa-magra-gostosa-quentinha-687532.shtml

sexta-feira, 22 de junho de 2012

A dialética do frio no metabolismo!

Durante a vida é realmente importante que mantenhamos uma alimentação equilibrada que não proporcione balanço energético positivo, ou seja, que não se consuma mais energia do que se gasta. 

Independente da época do ano, da cor do céu ou da fase da lua, o conteúdo ingerido será utilizado e, se for excedente, será convertido em gordura, a principal forma de armazenamento energético do corpo humano. 

De fato, assim como em diversos aspectos das ciências que tem o homem como seu objeto de estudo, não há consenso no tocante a taxa de metabolismo alterada mediante à temperatura do ambiente. De um lado autores dizem que para a termorregulação são utilizadas as moléculas de gordura estocadas no corpo (tanto que a termogenia está associada com este "estoque energético") e, do outro lado, são feitas afirmações referentes a necessidade de manutenção desta gordura como isolante térmico e não como fornecedora de energia, o que dificultaria a sua perda durante o frio. 

Por mais tumultuada que possa ser esta discussão, é ainda isso, uma discussão. 

"Treinar no inverno queima mais calorias? Não caia nesta cilada." - Qual cilada exatamente? 

Com todo respeito aos educadores físicos que são os indicados para prescrever e coordenar atividade física, não é neste pensamento empírico simplista de que "se no frio as pessoas queimassem mais gordura, a população que vive em países próximos dos polos seria magra" que seremos capazes de obter respostas coerentes. Como é a alimentação da população dos povos, quais são as atividades diárias, como se dá a prática de atividade física? Não seriam estas variáveis importante? 

Estética de publicidade para divulgar ciência. Ótimo. 



terça-feira, 19 de junho de 2012

Descaso com o discurso...

Me espanto com o desserviço de certas matérias.

Enquanto alimentação e nutrição se mantiverem interessantes o suficiente para pautar veículos informativos, acredito que estaremos fadados a bancarrota da informação sobre o tema.

Pois bem, muito há que de se discutir sobre a influência nutricional na qualidade de vida e na saúde, compartilhamos uma ciência nova, em constante evolução e repleta de incertezas.

Uma matéria cuja manchete diz: Óleo de peixe não ajuda demência, diz pesquisadores; indica uma "verdade" incontestável. Mais ainda, utilizar o termo "perda de tempo" para o consumo em prol do benefício em questão é enfático e promove certo desconforto para quem o segue.

De fato, cada vez são realizados estudos para validar possíveis efeitos dos nutrientes isolados. O ômega-3, em pauta por muitos outros benefícios associais a peroxidação lipídica e cuidados cardiovasculares, se propõe também protetora da função cerebral e, talvez, quem sabe, um estudo que considera o consumo durante apenas 3 anos, não o demonstre significativo.


Descaso com o discurso. Aspas em falas fragmentadas de profissionais. Uma informação passada como notícia, que não agrega nada de novo e se reporta, de modo bastante superficial, a um estudo ainda mais simplista e inconclusivo. 


Se discutir alimentação e nutrição é suficientemente importante para ter uma editoria, que sejam realizados bons trabalhos na divulgação de assuntos realmente relevantes, com estudos bons e confiáveis e não jogar temas pretensiosos para engrossar o volume de produção. 








http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/bbc/2012/06/13/oleo-de-peixe-nao-ajuda-a-prevenir-demencia-dizem-pesquisadores.htm

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Mulheres, pobres mulheres!

Muito me espanta que o "regime de engorda" seja apontado aqui como cruel.
Na Mauritânia, em uma comunidade cuja renda familiar não atinge as cifras de um café expresso na região da Av. Paulista, me parece bastante plausível que a gordura seja o belo.

O corpo humano é bicho e a gordura corporal é sinônimo de segurança energética. Em uma situação de extrema escassez, não é a toa que sejam privilegiadas as mulheres cuja qualidade orgânica assegure a procriação.

Não me entendam mal, não estou dizendo que é certo forçar meninas ao consumo exagerado de leite e cuscuz, tão pouco maltratá-las, ou deixá-las escondidas sob os véus e prendê-las em casa como responsáveis pelos afazeres domésticos. Se trata de uma cultura incapaz de caber nas molduras da "modernidade". Injustiça, sem dúvida.

No entanto, não consigo deixar de questionar que a ditadura da beleza nos outros pontos do mundo é tal e qual, e os resultados são ainda mais expressivos. A implicância da magreza, a necessidade de contornos perfeitos e a busca incessante pelas imagens da perfeição (trabalhadas por programas de computador) não é menos agressiva do que para as meninas da Mauritânia.

Nos revoltamos quando vemos um povo de tradições "ultrapassadas" engordar jovenzinhas em prol do casamento, mas se submeter a rotinas extenuantes de atividade física e longas recuperações de cirurgias plásticas em uma constante greve de fome, ah, isso tudo bem. 

Incomoda saber que a saúde destas moças está condenada à diabetes, pressão alta, descontrole do colesterol, dores articulares e incapacidades de movimento. Sem duvidas, é de cortar o coração. 

No entanto, será que há o mesmo incômodo ao considerar os efeitos que as fórmulas emagrecedoras, os shakes de fibras e a exaustão dos tratamentos estéticos proporcionam? Paramos mesmo para considerar a infelicidade do vazio da busca por um corpo biotipo apenas de uma pequeniníssima parcela das mulheres? Será mesmo que consideramos a realidade de que o stress orgânico da fome é tão avassalador quando o do ganho de peso em excesso?

Mulheres, pobre mulheres que da Mauritânia à Nova Iorque, não conseguem se ver livres da beleza inorgânica...



http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1680997-15605,00-MENINAS+SAO+OBRIGADAS+A+ENGORDAR+EM+PAIS+AFRICANO+PARA+CONSEGUIR+SE+CASAR.html


quarta-feira, 30 de maio de 2012

Isso engorda!

Em tempos de "engordafobia", o vocabulário acaba sendo uma poderosa ferramenta.

No momento em que "engorda" é estampado em um texto, a atenção destinada é quase instintiva. Pena que pouco se entende entre as reais diferenças de perda de peso e emagrecimento, o que faz com que o poder dos termos caia por terra em uma grande falta de explicações (e de compreensão).

Quem diria que o suco de laranja, excelente fonte de vitamina C e de potássio, rico em água e em flavonóides, poderia ser tão perverso quanto um bombom de chocolate com recheio de amendoim?

Na verdade, para corrigir a endocrinologista, cujo foco de estudo durante toda a formação foi medicina e não nutrição, este bombom fornece 114kcal, enquanto o suco de laranja tem, em média, 130kcal.

Por mais aterrorizante que possa parecer, esta é realidade.

Infelizmente, na cultura esvaziada em que vivemos, não estamos aqui discutindo a qualidade nutricional dos alimentos, mas sim se ele "engorda" ou "não engorda"... Bom seria se o corpo não percebesse diferença entre as calorias, se considerasse tudo igual e utilizasse a energia sem passar pelos mecanismos bioquímicos... Confesso que se assim fosse, a vida do nutricionista (ao menos dos bons nutricionistas) seria bem menos complicada.

Já que o chamariz é a simplicidade do conceito, que sejamos radicias: tudo "engorda", a não ser a água (ainda que ela te faça apresentar umas graminhas a mais na balança).

http://noticias.uol.com.br/saude/album/comparativo_calorias_album.htm#fotoNav=2






sexta-feira, 25 de maio de 2012

Sem medidas...

Ah, o admirável mundo da moda.

Ainda que o paradoxo inicie no próprio conceito (moda é aquilo que se repete com maior frequência) não pretendo questionar a empregabilidade do que é apresentado nas passarelas, mas sim atentar à alienação na manutenção do padrão estético.

A reportagem conta a história de meninas "abençoadas por natureza" que, mesmo sem grande esforço, exibem pele e osso na desejada harmonia dominante. Algumas perdem oportunidades por não estar dentro das medidas... Outras entram na neurose porque o "cliente exige"... E sim, são corpinhos de 11 anos (on-ze a-nos!) vestidos de marcas famosas e determinando a moda.

Uma simulação de mulher em corpo - e metabolismo - de criança.

Não há o menor esforço em empregar juízo de valor. A informação é passada sem alarde. É fato, aqui está.

O desserviço da informação reside no absoluto descaso com um a realidade absurda que, ao propagar o conteúdo apenas o reafirma.




http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/spfw-apostas-da-passarela-relatam-terror-da-fita-metrica


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Presente de casamento: nutrição enteral.

Em tempos de pós-modernidade, que não apenas passamos do "ser" para "ter", como do "ter" para "parecer", não é novidade que aparentar a beleza é mais importante do que de fato conquistá-la.

No espetáculos de corpos belos, me espanta o preço (não apenas econômico) que se disponibiliza para exibir uma silhueta reduzida e assim, chegamos ao caos.

O caos que aqui me refiro não é aquele hipócrita que reforça o absurdo ideal de beleza dependente de uma magreza utópica, tão pouco da desarmonia psicológica que nos afoga de insatisfação, ressalto aqui o desarranjo metabólico proposto para um sucesso momentâneo.

O exclusivo consumo de proteínas é sim um grande promotor da perda de peso. Sem glicose o corpo não percebe que foi alimentado e os hormônios liberados (ou não liberados, no caso da insulina) sinalizam para o corpo que não houve alimentação. Para o corpo humano, como para qualquer outro representante do reino animal, perceber a ausência alimentar, indica a necessidade de utilizar suas reservas de energia para manter a vida. É neste momento então que o corpo "perde peso". Todas as outras fontes de energia são recrutadas em prol da sobrevivência, no entanto, o primeiro substrato utilizado é a proteína.

Sim, a perda de peso se dá principalmente pela perda de massa magra.

Neste caso, não há o estímulo a fome, pois o estômago percebe ser "alimentado" constantemente, e a proteína que é infundida é capaz de ativar os sinalizadores da saciedade informando ao cérebro que não há necessidade de consumo.

Carboidratos são elementos que, por excelência, desempenham a qualidade higroscópica, o que significa que retém líquidos. Quando o consumo é inexistente, perde-se água e, como água pesa, diminui-se peso.

O desfecho do caos metabólico se dá no momento em que, reinserida na sociedade, a noiva retira a sonda e volta a se alimentar. Como o corpo se manteve em stress (pois falta de alimento é sim um grande stress!) há o efeito rebote e o ganho de gordura (aqui não somente de peso) é destino certo.

Músculo é o grande determinante do metabolismo do corpo. Quanto mais músculo precisa ser nutrido, mais energia o indivíduo deve consumir. Portanto, quanto menor for a massa magra, menor o metabolismo. Esta conduta, a longo prazo, como o que foi predominantemente perdido durante o estado de "falsa diabetes mellitus tipo 1", é justamente a massa magra, a recém casada tem um metabolismo mais preguiçoso do que a linda noivinha.

Quer mais caos?
Sabendo de tudo isso, escutar de um profissional gabaritado que "com a mistura de proteínas a pessoa leva vida normal, sem risco para a saúde. E funciona." só que é preciso "pagar o mico de andar com um tubo pendurado no nariz."  



http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1093681-noivas-fazem-de-tudo-para-entrar-no-vestido-ate-dieta-da-sonda.shtml

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Nobre e superficial.

O assunto é nobre e as informações extremamente necessárias.

Se a nutriz é a responsável por "fabricar" a alimentação de seu filho, aquilo que ela consome é ainda mais importante por exercer dupla nutrição. Nada mais justo do que "utilizar" estas informações para uma prestação de serviço.

Muito importante saber que aquilo que se consome durante a lactação passa de modo praticamente intacto ao leite materno e, portanto, os cuidados alimentares tidos durante a gestação devem perdurar neste momento e, mais ainda, "que é preciso ter bom senso" com as escolhas ainda que "se possa comer de tudo".

Fora a contradição - afinal café e álcool não devem ser consumidos e, no entanto, eles fazem parte das opções de alimentos e bebidas disponíveis - o que mais esfumaça a prestação de serviço, é que, embora é dada voz à uma nutricionista, os pontos aqui ressaltados partiram da boca da pediatra (segundo referencia do autor).

Ademais, só por curiosidade, será mesmo que com este texto somos capazes de "saber como deve ser a alimentação"?



 http://mulher.uol.com.br/gravidez-e-bebes/noticias/redacao/2012/05/17/lactante-deve-evitar-alcool-e-excesso-de-cafe-saiba-o-que-comer-durante-amamentacao.htm

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Celebridade ortomolecular!

Com todo respeito à medicina ortomolecular, por mais incômodo que me cause a hipersuplementação de vitaminas em minerais para uma "harmonia orgânica", e sem contestar seus mecanismos, causas e efeitos, venho aqui ressaltar que não concordo com o uso mercadológico deste conhecimento para "secar como as famosas".

Sim, de fato, um corpo metabolicamente organizado tem maior facilidade em se livrar de gordura, toxinas e de, me perdoem o hedonismo, "funcionar melhor". Mas não é disso que depende a perda de peso e sua manutenção.

Celebridades são humanas, mas nem tanto.

São donas de um corpo biológico e cultural como qualquer outra mulher, no entanto, o investimento (físico, mental e econômico) para "vestir" a beleza é outro. Qualquer mudança gordurosa no manequim tem impacto nacional, estará estampado na capa de revistas e comentários negativos irão escurecer a luz da fama.

Realidades distintas julgadas sob um mesmo padrão de beleza. Uma realidade que-nada-tem-de-real determinante de uma utopia corporal para uma mulher que trabalha, estuda, educa filhos, come pipoca no cinema e curte um chocolate quente numa noite de inverno.

Me desculpe, mas repor nutrientes não faz perder 8kgs. Aos menos não o faz sem alteração de hábitos alimentares. Mais ainda, desde quando eliminar doces e frituras e reduzir carboidratos não é alteração dietética? Por que menosprezar o esforço relacionado à alimentação? Já não está absolutamente esclarecido que são justamente os hábitos alimentares saudáveis e a prática de atividade física que proporcionam a alteração da composição corporal? Será que isso novidade?

Enalteceremos então os suplementos ortomoleculares (colocados aqui sem qualquer referência aos elementos que os compõe) e deixar de lado a "dietinha"...



http://boaforma.abril.com.br/dieta/aliados-da-dieta/dieta-globais-ortomolecular-500176.shtml?


terça-feira, 15 de maio de 2012

Be-a-bá do cardápio infantil!

A iniciativa é nobre: cuidar da saúde das crianças e alertar para a  "epidemia" do excesso de peso.
Não é novidade que os hábitos atuais e a dominação dos filhos sobre os pais é um grande determinante do resultado que se mede em roupinhas e nas taxas sanguíneas.

Endocrinologista é médico que, por definição, trata com hormônios. Nutricionista é o profissional da saúde cujo foco exclusivo é a alimentação e nutrição (com os demais impactos que pode prover do hábito).

Aqui, a endocrinologista explica a situação, e a nutricionista prescreve um cardápio.

Cardápio (agora ele) é, por definição, uma importantíssima ferramenta do profissional que deve considerar a individualidade do ser humano. Quando o homem é o objeto de estudo, a precisão do be-a-bá cai por terra e o guia do cardápio não somente perde a força como ofusca a beleza da singularidade da prescrição.

http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2012/05/09/seu-filho-esta-acima-do-peso-veja-dicas-de-especialistas-para-resolver-o-problema.htm


segunda-feira, 14 de maio de 2012

Completamente rendida!

Relutei muito. Muito mesmo. 
Não queria ter um blog. 
Mais uma responsabilidade, mais uma tarefa para o meu dia, mais palavras ocupando a mente na angústia por serem digitadas...

Resolvi me render quando dei conta de que certos objetivos profissionais criam raízes tão profundas que passam a ser lema de vida... Aqui está um dos meus. 

Acesso à informação não é o mesmo que conhecimento. Hoje, com as facilidades do maravilhoso universo hiper-real, somos todos "especialistas em fumaça". De nada sabemos para além do aprofundamento do "drops" de notícia. 

A Veja te mostra o esquema do ataque cardíaco, o caderno de Saúde da Folha de São Paulo diz dos últimos estudos sobre os flavonóides e o excelentíssimo dr. Drauzio Varela, entra na sua casa domingo a noite para explicar como agir frente a uma parada cardiorespiratória. Quer mais completo do que isso? Dê um Google!

A minha querida nutrição, ciência complexa desde o seu objeto de estudo (o homem, de natureza biológica e cultural) até sua idade (novinha em folha...), sofre mais do que muito em um "blá-blá-blá" de sensacionaliza um conhecimento cujo dever social é a saúde. 

Não tenho nenhuma pretensão de grandes mudanças mas, já que há democracia, que minha voz também seja ouvida. 

Antes de mais tudo, peço licença àqueles que serão relacionados no desenrolar dos textos... E para os demais,  que me ajudem a cultivar essa sementinha de pensamento!