domingo, 22 de dezembro de 2013

Beleza e cultura: cada uma tem a sua!

         Jovens meninas da Mauritânia são mantidas, desde a primeira infância, em uma rigorosa dieta. Apesar de muitas não apreciarem o paladar – nem tão pouco o volume que lhes é oferecido – a promessa de uma vida melhor reside na aparência física.
             Em um país castigado pela pobreza, o ideal de beleza feminino não poderia ser outro: o peso em excesso. Os efeitos no corpo, frente a busca deste ideal, não são sutis e muitas destas mulheres sofrem com os já conhecidos impactos desta condição.
            Há quem se indigne com o comportamento destas famílias, e quem questione o sofrimento e a metamorfose física que estas meninas se submetem. Há, mais ainda, quem ache absurdo o prejuízo à saúde decorrente de uma conduta “bárbara”, “ultrapassada” e, por que não, sexista.
            Frente a qualquer suposição quanto às práticas destas jovens, proponho o seguimento da leitura.
            Jovens meninas de São Paulo, Nova Iorque, Paris e Tóquio são mantidas, desde a primeira infância, em uma rigorosa dieta. Dieta esta determinada, sobretudo, pelos seus ideais estéticos. Modelos familiares e midiáticos buscam – e lhes apresentam constantemente – mulheres magras. Apesar de muitas não apreciarem as regras de uma dieta restritiva – nem tão pouco se sentirem satisfeitas com o volume que lhes é oferecido – a promessa da felicidade reside na sua aparência física.
            Dentre os modelos definidos através da globalização, o ideal de beleza se constrói único, a despeito das características individuais, da etnia e até mesmo da faixa etária: longilíneas, alvas e jovens. Os efeitos no corpo, frente a busca deste ideal, não são sutis e muitas destas mulheres, sofrem com dietas drásticas, exercícios extenuantes e procedimentos invasivos.  
            Guardadas as devidas diferenças culturais, a mulher se posiciona em constante proximidade com a beleza e se sente na obrigação de cultivar um corpo baseada em determinantes exteriores – que talvez não sejam os mais prazerosos ou, tão pouco os mais saudáveis.O cultuo a uma beleza de “difícil acesso” se resume como sorte de poucas e desejo de muitas. Estas muitas, invariavelmente infelizes com seus corpos.
            Quando não se medem esforços para atingir objetivos – estes bastante caprichosos – os resultados podem ser drásticos, assim como é para a saúde das senhoras da Mauritânia e, por mais que nem sempre seja considerado, das mulheres que travam uma busca desenfreada por uma magreza que não lhes pertence.
            A inserção na cultura turva a interpretação e, se há quem condene as práticas culturais da Mauritânia, que buscam o ganho de gordura, certamente há quem condene as das meninas de São Paulo, Nova Iorque, Paris e Tóquio que buscam uma magreza sem saúde. Será que apenas as africanas estão submetidas a uma cultura bárbara, ultrapassada e sexista?   



sábado, 30 de novembro de 2013

E esse corpo? Quanto custa?


Sábado, 8:20hs da manhã, laboratório de exames médicos. 
Senha, cadastro, perguntas e respostas, espera - longa espera.

Do meu lado, um jovem rapaz inquieto. Sacode as pernas, balança os pés, estala dos dedos, os punhos e, em um gesto aflitivo, o pescoço. Ao seu lado, uma senhora lhe pede paciência, faz um carinho no seu joelho e, timidamente, lhe lança um sorriso (daqueles que só mãe consegue oferecer em dada situação).

Mais tempo passa. 

O rapaz, tira o boné, passa uma mão no rosto, olha o relógio. Ostentando seus (muitos) músculos, passeia pela sala de espera e, voltando-se novamente à senhora, diz: "não posso mais, estou catabolizando mãe, eu preciso comer!"

A senhora: "Filho, fique calmo, mais uns minutinhos já vai para o exame..."
Os músculos: "Quero ir embora!"
A senhora, de modo agridoce:  " Hoje não temos escolha. Se você não tivesse usado aquelas seringas, não estaríamos aqui para refazer os exames." 
Os músculos: "Ah não, isso de novo não..." 
A senhora: "A médica disse que..."
Os músculos: "Eu precisava crescer rápido... Já disse que eu tinha que estar 'trincado'' em Porto..."

Parei de ouvir. 
Ou me fiz parar de ouvir. 
Mais ainda, talvez tenha me perdido nas minhas considerações a respeito...

O corpo que é usado como roupa. 
O corpo construído de forma hipócrita: que apresenta uma saúde que não tem.
Uma composição corporal que não só depende de disciplina no treino físico, como também requer uma clausura psicológica - e, claro, de ampolas de anabolizantes. 

Que corpo você quer vestir hoje? 
E amanha? 
... E quando tiver 80 anos?


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Um retrato pessoal.

Cheguei à Europa por Amsterdã.

Meu destino? Itália! 


Quando o pequeno avião decolou - já 12:30hs no horário local - a passageira que sentava ao meu lado, tirou de sua bolsa, um saco de plástico, e desembrulhou um sanduíche (pão preto de grãos, queijo tipo feta, pepino e tomate). Comeu com gosto. Antes mesmo de se ter o serviço de bordo, ainda do mesmo saco, desembrulhou uvas verdes e, uma a uma, consumiu todo o pacote, entredita no seus planos de viagem: com uma mão pegava as uvas, e com a outra folheava um guia turístico da Itália.


Vestindo uma calça de cargo bege, sapatos confortáveis, um pulôver cor de rosa sobre uma blusa básica branca. Olhos azuis, cabelos presos em um rabo de cavalo. Simples. Linda. Conversava com sua amiga em alemão e, gentilmente, não aceitou o lanche oferecido no avião.
Não pude deixar de reparar na atitude. Na qualidade da alimentação. Nas escolhas. Na... Cultura?


Com estes pensamentos, cheguei na bellissima cita della pasta.

Massa, pizza e vinho! Sorvetes artesanais derretem nos cones de biju e, colorem  as gelaterias abarrotadas de pessoas.
Em Roma come-se por prazer, com gosto e com alegria.


Seguindo adiante na viagem, eis que chega Firenze. Pratos típicos da Toscana - como a Bisteca à Fiorentina (um verdadeiro naco de carne bovina servido parcialmente cru) e a Rigollina (uma sopa de repolho, cenoura, abobrinha e pão italino) - são verdadeiros pontos turisticos. Os panificados adoradados encantam nas vitrines e os capuccinos com biscoitos recheados de geleia enfeitam as mesas das cafeterias. Uma festa.
Em Florença come-se com arte, como tempo e com consistência.


Seguindo adiante na viagem, eis que chega Milão - a capital da moda.
Ah... E como a moda é cruel (e cara)!

Passeando na famosa - e verdadeiramente bela - galeria Vitorio Emanuelle, entre as lojas de marcas famosas e mulheres esguias passeando com seus cachorrinhos no colo, me deparo com a imagem que, para mim, mais marcou nos tortuosos corredores do pensamento moda-cultura-corpo.  Na entrada da ostentosa ZARA MILANO (de três andares, estes completamente abarrotado de pessoas), três esquálidos manequins expõe roupas da marca. As roupas, repare bem, vestem-os de modo justo. Feitas para um corpo absolutamente magro.

Há quem diga que são meros manequins, feitos assim para realçar a beleza da roupa. Há quem diga que são manequins estilizados, idealizados enquanto escultura. Há quem nem os note. Há quem se inspire neles... Para mim, a despeito do que se pretendia, ficou uma.. Tristeza.


Enquanto pessoa me senti distante de toda alegria alimentar italiana. Enquanto mulher, me senti muitíssimo mal representada, como se aquilo tudo não fosse para mim. E, mais ainda, enquanto nutricionista, crente na individualidade metabólica de cada ser e na beleza de ser feliz, me senti ligeiramente culpada e absolutamente preocupada.

E quando lembro da alemã do inicio da viagem... A simplicidade de ser bela! 



quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O desejo de ser perfeita.

A capa da revista, a protagonista da novela, a dona de casa da propaganda de margarina: todas perfeitas. Mulheres felizes, estas perfeitas. A perfeição em tudo está, no sorriso, nas contornos, nos penteados, na pele e, porque não, na juventude.

A “mulher moderna” (pós-moderna, contemporânea...o nome que quiser dar) estuda, trabalha, cuida dos filhos, passa roupa quando consegue e faz supermercado no final do dia. Assiste ao jornal, à novela e lê revista. Essa mulher compra a roupa da moda, carrega na bolsa a barra de cereais que “não engorda” e malha de duas a três vezes na semana.

A perfeição, no entanto, não se faz presente.

O modelo aspiracional de beleza é cruel, distante, cheio de... perfeição. Uma perfeição para além do atingível com dietas, tratamentos estéticos, maquiagens e (muita) atividade física. Uma beleza que não depende puramente o biótipo e da “loteria genética” que nos determina. Uma beleza construída, que modela o corpo ao prazer do consumo. 

A beleza que se busca – que se pretende e que se divulga – é uma beleza promissora. Promete o sucesso, o bem estar e, no limite, a felicidade.

A tríade infalível: o sucesso por possuir este corpo, por ser digna de desfrutá-lo, por tê-lo conquistado a despeito do seu alto custo (por vezes, literal); o bem estar de “faz-de-conta”, pois o corpo “ideal” não é necessariamente um corpo “saudável” (premissa essa que, muitas vezes, é justamente inversamente válida), e; a felicidade, constante e inconsequente valor relativo.

Qual a felicidade da privação constante? Do extremo de trocar uma refeição por um shake? De se privar de festas para não “errar a dieta”? De trocar um happy hour com os amigos por um treino extenuante na academia?
            
Tenha foco. Mas que este seja ser feliz.  


            

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Já que ciência se faz sobre fatos...

Fato 1: hiperglicemias constantes são o gatilho para o anabolismo - sim, quanto mais constante a presença de glicose no sangue, mais seguro o corpo se sente em estoca-la: eis o balanço energético positivo que estimula o ganho de gordura corporal;

Fato 2: a glicemia pode ficar aumentada por uma disfunção no uso desta glicose (como no caso da diabetes), como tambem pode ser originaria de um consumo energético para além das necessidade (que leva, muitas vezes, ao excesso de peso) e, por que não, por uma dieta de alta carga glicêmica (responsável, a longo prazo, pela chamada "resistência insulinica"); - me perdoem pela simplicidade, existem outros fatores promotores de hiperglicemias (como o ganho de peso acelerado na gestação), mas aqui simplifico para considerarmos "fatos mais objetivos";

Fato 3: o mecanismo da célula que faz a entrada da glicose na célula propriamente dita é conhecido como GLUT-4 (um exemplo clássico de segundo mensageiro que realiza o transporte de membrana para dentro da célula);

Fato 4: quando os mecanismos de transporte são mais eficientes, claramente, a glicose no sangue fica mais controlada (ou melhor, mais eficientemente controlada);

Fato 5: com a glicemia esta mais controlada a síntese de gordura é tambem controlada;

Fato 6: mecanismos que controlem a glicemia promovem a diminuição do armazenamento de gordura e, de certo modo, a perda de peso.

Fato 7: a regulação é necessária para aqueles indivíduos que não conseguem fazê-la de modo fisiológico (aqueles que são portadores de diabetes do tipo II).

Fato 8: a perda de peso é, sobretudo, um efeito colateral;

Fato 9: o tempo de estudo de um medicamento, para ele ser considerado seguro é de 10 anos; no entanto, ele deve permaneçer sendo estudado para que seja possível avaliar os efeitos a longo prazo. Na ciência, um novo produto requer responsabilidade: pode trazer avanços importantes, como tambem, causar impactos avassaladores. No caso da Liraglutida, ela esta liberada ao uso pela ANVISA desde 2010... Faz apenas 3 anos...

Fato 10: o composto ativo do medicamento é um análogo ao pepitido similar ao glucagon tipo 1, que promove mudanças no DNA (relatadas como danos nas bases) em estudos realizados com ratos - com aplicação aguda e crônica do composto. (Se tivere interesse em um dos estudos: COLONETTI, et al, 2013. - Avaliacao do efeito da administração aguda e crônica de Liraglutida sobre parâmetros de dano ao DNA em sangue de ratos jovens).







terça-feira, 17 de setembro de 2013

"O mercado da dieta"

Jornal da Band, dia 17 de setembro de 2013.
Mais uma reportagem sobre dieta. As chamadas "dietas da moda" nas suas mais absurdas variações. mulheres que se unem via rede social para se dar força trocar receitas de "sucesso".
A repórter, em uma conhecida livraria da capital paulista diz: "O mercado da dieta cresce com grande rapidez, a cada mes, seis livros são publicados sobre o tema".

Veja bem, com todo o meu olhar crítico - confesso que, por vezes, crítico para além da conta - não acho ruim o uso das redes sociais e da tecnologia virtual para difusão da nutrição, tão pouco, para incentivar, dar exemplos e atuar como elemento motivador. No entanto, questiono - e peço a reflexão daqueles que aqui me lêem - a tênue linha que separa a nutrição do "milagre da nutrição".

Nutrição é uma ciência médica. Tem como base disciplinas como a bioquímica e a fisiologia. O profissional - ao menos os bons profissionais - estudam muito mais do que os quatro anos de faculdade. Escolhem uma área do campo e se especializam no conhecimento. Para discutir nutrição, por assim dizer, é preciso conhecimento, estudo e muita dedicação - ciência nova é encantadora e dinâmica, que requer constante atualização.

O "milagre da nutrição", por sua vez, é aquele vendido na revista, no site de emagrecimento e na televisão. É aquele que baseado no "diz-que-me-diz", no "que-fez-fulana-emagrecer-horrores", é cheia de regras e restrições com pouco fundamento científico. É aquele que, cheia de fotos coloridas, encanta a mulher que quer emagrecer, e determina um padrão de beleza as custas de muito esforço e sofrimento. É "uma pílula mágica", é a "dieta da sopa", "dieta da chia", "dieta do gengibre"... Não que  a sopa, a chia e o gengibre não sejam bons - e no limite, auxiliadores de perda de peso - mas não são exclusivos, nem tão poucos suficientes, para a boa nutrição. No "milagre da nutrição", as normas estabelecidas são doutrinas, por vezes, aceitas sem a devida explicação cientifica, repletas de explicações que satisfazem pois prometem o que querem que seja prometido: quem não quer uma fruta que digira os alimentos, uma cápsula que queime gordura, ou uma semente que diminua o apetite pelo doce?

A nutrição, temos em consultório. Construímos sobre os pilares da relação profissional-paciente (ou cliente). Consideramos as diretrizes da ciência, os hábitos alimentares e, não menos importante, a individualidade (de vida, de gosto, de crenças e, porque não, de metabolismo).

O "milagre da nutrição", por sua vez, esta por aí... Nas redes sociais, na revista, no papo com a amiga, no livro de ontem, de hoje, de amanhã... Se expressa - e se faz - como o "mercado da dieta".

Cabe a cada um escolher no que quer acreditar e em qual conduta confiar - e seguir. A revista precisa ser vendida - assim como o livro - e, para isso, não são poupados esforços (tão pouco promessas). Não é porque está publicado em letras bonitas em um papel brilhante que expõe a mais absoluta verdade. Pode ajudar, componde atrapalhar.

Será que, se os consumidores do mercado da dieta, caso escolhessem a orientação profissional  e se dedicassem com a mesma disposição que têm nas grandes restrições - e nas  regras dos "milagres da nutrição" - não colheriam melhores resultados? Ou, ao menos, resultados que durassem mais tempo do que o intervalo entre a última e a próxima publicação milagrosas da nutrição?





terça-feira, 28 de maio de 2013

Comer pra quê? Fazer jejum está na moda.

Francamente... Era o que faltava.

Sim, o jejum. Literalmente: manter-se sem realizar refeições (por um, três e até 10 dias).

Como de costume, eis que uma matéria para perda de peso, fora colocada em destaque, sem se fazer suficientemente explicativa, carregando a chancela de qualidade dos profissionais que aí deixam seus depoimentos.

Com todo o respeito, o jejum não é uma ferramenta para o manejo dietético cientificamente comprovada. E, não, nosso corpo enquanto homem das cavernas, não gostava de ser forçado ao jejum.

O jejum (com perdão de descordar do médico), não causa um efeito similar à dieta de restrição calórica, pois a grande diferença é que nela, se consome alimentos, no jejum, não. E isso, faz toda a diferença. (A não ser, claro, que se consumam os caldos de carnes, como um dos médicos diz ser permitido... No entanto, de novo, com todo o respeito doutor, se se consome caldo, não está mais em jejum, portanto, a teoria se faz falha.)

A despeito da falta de consideração com o corpo proveniente do jejum, a cetose metabólica (realçada pelo médico como positiva) causa três grandes impactos: o primeiro, como o próprio especialista salientou, diz respeito a utilização de gordura como fonte de energia... O que ele esqueceu de dizer é que o uso da gordura só se dá após a massa magra (músculo) ser consumida, evento este, reforçado pela própria acidez proveniente da cetose, que é por excelência proteolítica; o segundo, dietas restritivas e, mais ainda, o jejum, levam o corpo ao stress metabólico, como se a vida estivesse em risco, promovendo maior liberação de cortisol e hormônios orexígenos (que estimulam a fome); o terceiro, será que estes doutores já ouviram falar da resistência insulínica causada pelo jejum prolongado? Dentre tantos "conhecimentos científicos" este fora ignorado! Enfim... Lamentável.

Que me desculpem as celebridades adeptas, não há como ser "revigorante" e "encher de energia", uma conduta de tamanho stress corporal.

Indago ainda, como será o humor daquele que decidiu seguir com seus afazeres de vida em jejum? Deveríamos perguntar as modelos... Não são elas escandalosamente felizes?




sábado, 4 de maio de 2013

Vida pró-Ana.

Anorexia nervosa. Parente próxima da Bulimia nervosa. Ambas vislumbram, dada as suas diferenças, um corpo ideal, cuidadosamente cultivado na estética do que não se é.

Transtornos alimentares são doenças. Patologias complexas. Que destroem vidas e famílias de mocinhas (e mocinhos) nascidos em meio ao poderil do consumo, cujo ápice é o consumo do próprio corpo. Um corpo que se veste e, se preciso for, não se nutre.

Não venha me dizer que é preciso ter cuidado com sites "pró-ana" (pró-anorexia). Tão pouco me diga que "essa ídéia é louca" e que "viver passando fome é um absurdo". Ainda que guardadas as devidas proporções, quantas mulheres, assumindo a esquálida beleza incomum, não vivem com "esta ideia louca" e constantemente famintas?

Quanto não se privam de viver?

Cuidado com sites pró-ana? Eles, ao menos, se assumem como tal.
E para com as revistas e propagandas que nos estampam modelos pro-ana? Que criam, mesmo que inconscientemente, este padrão? Será que este incentivo silencioso não é ainda mais perigoso?



http://boaforma.abril.com.br/comportamento/saude-mulher/alerta-paginas-web-defendem-anorexia-489418.shtml

terça-feira, 30 de abril de 2013

O carboidrato a noite agora está liberado?

A proximidade da ciência da nutrição com a vida cotidiana faz dela relevante e de grande interesse social, fato este que, facilmente, assegura a sua divulgação. A nutrição, assim como toda a ciência, depende desta divulgação para que possa cumprir seu papel social. De nada vale uma ciência reclusa aos laboratórios, na forma de um conhecimento sem prática.

Enquanto material informativo, a nutrição agrada seus divulgadores, que notam seu potencial em despertar a curiosidade popular. Esta sinônimo de sucesso de vendas.

Sim, somos capitalistas, precisamos de dinheiro e visamos constantemente o lucro. Os veículos de comunicação, a despeito de seus preceitos enquanto "informadores da vida" são, sobretudo, empresas. E empresas buscam o lucro. O lucro é possível mediante a venda de seus produtos. Neste caso, produtos culturais. Até aqui nenhuma novidade.

O ponto de tensão, no entanto, se revela na qualidade da informação divulgada e, ainda mais intrigante, na sua construção discursiva.

Ao se dizer divulgador científico, o veículo de informação se assume "confiável". A credibilidade social aumenta de acordo com a abrangência que o veículo promete, inviabilizando o questionamento da veracidade das informações que divulga.

Pois é, qual é o profissional que consegue se opor a força de uma divulgação científica mal feita? Se está na revista... Deve ser verdade. O enfraquecimento da conduta (e até do conhecimento)  do profissional é inevitável.

Sem a ousadia de conflitar com "as pesquisas" e "os estudos" citados na matéria sobre as "novidades" da polêmica do consumo de carboidratos a noite, o inconveniente está antes mesmo da leitura de seu corpo. A manchete, digna de um jornalismo cor-de-rosa, incita uma informação que nada tem de verdadeira.

"Carboidrato a noite? Está liberado!" - Francamente. Há um oceano de distância entre a possibilidade de consumo e a completa liberação. Além da "novidade" para a sociedade - já muito acostumada com a dicotomia  dos "pode" e "não pode" da própria divulgação científica - a "liberação" soa como um grande PODE!

Veja bem, não estou dizendo que "não pode", aliás, sou avessa às orientações totalitárias - é preciso considerar a individualidade metabólica dos homens - mas, honestamente, quero ver um indivíduo consumir, de modo "liberado", os carboidratos que ilustram a matéria atingir suas metas pessoais de peso e medidas.



http://saude.abril.com.br/edicoes/0361/nutricao/carboidrato-noite-esta-liberado-735611.shtml


quarta-feira, 24 de abril de 2013

A deturpação da detox.

Com todo o respeito aos colegas de classe - e sem a menor pretensão em julgar condutas profissionais - inicio uma breve consideração a respeito das "dietas detox".

Na teoria, a dieta desentoxicante é uma restrição alimentar (expressiva), aliada a alimentos com propriedades importantes no hepatócito (com a finalidade de solubilizar compostos tóxicos, para que este sejam passíveis da eliminação orgânica). Inicialmente era aplicada como coadjuvante no tratamento de indivíduos intoxicados por metais pesados.

No universo dos aditivos químicos (alimentares, ou não; propositais, ou não), a dieta desentoxicante recebeu outra aplicação: na melhora da qualidade de vida e estado geral de uma população constantemente exposta a xenobióticos.

Pois bem. Essa era a sua função até "cair na moda".

A dieta, agora denominada carinhosamente de "detox", tem, sobretudo, a qualidade (mercadológica) de "reduzir 3kg em 15 dias".

De fato, uma dieta que propõe uma "limpeza" no organismo, com a retirada de irritativos e aditivos alimentares (presentes em praticamente todos os alimentos), rica em fibras e em água (características próprias das verduras e dos legumes), terá (realmente) um efeito emagrecedor (aliás, qual a real novidade aqui?).

 Ainda que não seja esse o objetivo principal da dieta, isso tem bastante chance de acontecer... Um efeito colateral que vira objetivo principal.



http://corpoacorpo.uol.com.br/dieta/dieta-de-emergencia/dieta-detox-limpa-o-organismo-e-enxuga-3-kg-em-15-dias/1902

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Machete & conteúdo!

A manchete chama atenção: Sete dicas para perder barriga.

Interessante é que neste caso, assim como em muitos outros, a manchete não passa de uma promessa que não apresenta soluções significativas no corpo do texto. A manchete, enquanto tal, se faz bastante efetiva: convida e estimula a leitura. O conteúdo no entanto não passa de um mero apanhado de informações que, enfeitada pelos títulos das suas fontes, não serão capazes de "tirar a gordura da barriga". 

Pois é... Adivinha só... Não há milagre para perder a barriga! 

1 - Faça atividade física + a dieta; (segundo os especialistas, a combinação é necessária!)
2 - Faça atividade física aeróbica;
3 - Na adianta só fazer abdominais;
4 - Tenha uma boa postura;
5 - Faça atividade física regular;
6 - Cada pessoa tem uma tendência individual ao acúmulo de gordura; (mulheres mais do que homens);
7 - Melhor o estilo de vida: não beba, não fume, não coma errado e faça exercícios;

Ok... Passamos pelas "sete dicas" e... Bom... O que fato mudou? 
Primeiro, destes tópicos, temos apenas três dicas: fazer exercício, ter uma boa postura e cultivar hábitos saudáveis. 
Segundo, qual a real novidade nestes tópicos?
Terceiro, como obter os resultados para "perder barriga" como a manchete me prometia?

No final, a sensação promovida nada mais é do que um "Tá bom..." de um leitor enganado pela manchete. E quantas vezes isso não acontece? Quantos produtos não consumimos desta forma? Quantas vezes não temos expectativas construídas assim?

Sim, perda de gordura corporal não é uma tarefa simples. É preciso obter um balanço energético negativo (gastar mais do que consumir) e para isso, ou se gasta mais, ou se consome menos, ou ambos... Mas um não exclui a importância do outro. Mesmo assim, no final de dieta e malhação, nada garante que a gordura específica do abdome tenha sumido... 

... Mas certamente, em outra revista, ou outro site seja possível de encontrar mais "dicas para perder a barriga".

PS: Por que será que não foi consultado um nutricionista a respeito deste tema?





segunda-feira, 8 de abril de 2013

Ah, os ideais...

Muito se fala sobre o ideal distorcido de beleza, sobre os padrões estéticos de perfeição e das curvas cirurgicamente (e virtualmente) delineadas dos ícones contemporâneos.

Muitos são os estudos a respeito do impacto na (in)felicidade das mulheres com a sua aparência e da sociedade de consumo que se satisfaz a cada compra impulsionada pelo estado de espírito feminino. 

Muito se discute das campanhas publicitárias que apresentam mulheres magras, jovens e com uma beleza incomum na ânsia da venda de produtos. Peças publicitárias que, ao compor o universo de conhecimento das pessoas introjetam um padrão de beleza distante do "comum" e o determina enquanto ideal. Ideal este, não apenas de aparência, mas de sucesso de felicidade. 

Muito se discute na louca mudança da "beleza brasileira" que já fora da mulata das curvas sensuais e agora se divulga pelos quatro cantos do mundo na forma da super model Gisele Bündchen (cuja imagem é "usada" para vender de chinelo de dedo à financiamento de imóvies, passando por televisão a cabo... De fato, não há público alvo que passa ileso por sua "beleza brasileira"). Brasileira? 

Enfim...

Ainda que seja indiscutivelmente importante "muito discutir" estes temas, vale lembrar que, junto com o ideal de beleza é vendido um ideal de saúde. Mais importante ainda, um ideal de saúde vinculado ao um ideal de beleza que, francamente, de saúde, pouco tem. 

Associar os padrões estéticos elaborados através do Photoshop é uma afronta com a beleza do corpo real. Agora, associar estes padrões estéticos com a saúde... Neste caso, não é injusto apenas com a beleza do corpo, mas com a sua sobrevivência. 

E qual é o risco de se corre? As vezes é difícil lembrar que para algumas coisas não há como "erase" como se faz no Photoshop.


sexta-feira, 8 de março de 2013

Triste expectativa...

Não há nada mais frustante para um nutricionista do que não poder compartilhar a felicidade das conquistas com seu paciente...

Fato é que as pessoas estão constantemente infelizes com seus resultados. 
Em uma análise para além do ideal inatingível de beleza, o conceito de emagrecimento consolidado socialmente se faz mais forte do que qualquer orientação nutricional (por mais correta que esta seja). 

Quando, na capa da revista, uma mulher de beleza incomum, exibindo um corpo desejo-de-ser-corpo, é acompanhada por enfáticas sentenças de "seque", "enxugue", "elimine", é demasiadamente tentador não se contagiar. As promessas (que, por sua vez indicam silenciosas a possibilidade do sucesso) são, sobretudo, imediatistas. 

Ah, e o que seria da contemporaneidade sem o imediatismo? 

O bicho homem, no entanto, não funciona nesta velocidade. O corpo biológico não acompanha o corpo cultural que segue no compasso acelerado. Perder peso rapidamente não é próprio deste corpo: não aceita, e não o faz com destreza. 

Quando a paciente, linda, que trabalha, malha, gerencia os cuidados do lar, coordena a maternidade e mantém vivo o casamento, ao receber a notícia de que perdeu 2kg no primeiro mês dieta (tendo perdido 1,5kg de gordura e 2cm de circunferência da abdome), com um semblante triste e diz: "mas só isso?", a minha vontade é de agradecer muito, com todas as minhas forças, o desserviço à ciência da nutrição que a mídia da beleza insiste em prestar. 



http://corpoacorpo.uol.com.br/dieta/dieta-de-emergencia/dieta-para-emagrecer-6-kg-em-um-mes/3301


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Mártir da dieta!

A nutrição é uma ciência jovem. 
Ingênua, coitada, que não é capaz de se impor contra os grandes "nomes da moda". 

Dukan, grande francês que faz questão de propagar uma dieta absolutamente fora dos preceitos nutricionais de saúde e qualidade de vida, assumindo o slogn glamuroso de ter "conquistado mais de 30 milhões de leitores". 
Espero que tenham sido apenas leitores.

Esta dieta é uma releitura da "dieta das proteínas", elaborada ha alguns bons 10 anos...

As adaptações francesas reduzem o teor de gordura da dieta que se constrói em três etapas: 
A primeira, o mártir só pode consumir proteínas magras (peito de peru, queijo cottage, presunto magro, omelete de clara de ovos, por exemplo); 
A segunda, "menos restritiva", é possível introduzir os legumes e as verduras que devem, no entanto, ser consumidos apenas em dias alternados, ou seja, um dia "pode" e o outro volta a ser a dieta da primeira etapa;
A terceira etapa que é a mais "livre", em que alguns carboidratos como pão integral (1 fatia/dia) pode ser consumido, desde que seja mantido um dia da semana com a dieta restritiva da primeira etapa para "lembrar o corpo de funcionar daquela forma". 

Eu queria (muito) compreender o que faz um indivíduo, no controle de sua consciência, optar em seu livre arbítrio, em seguir uma dieta como esta. 

De fato, não há como não perder peso! Do modo com que é proposta, a dieta não permite o consumo de muitos dos alimentos que contribuem para o ganho de peso, e isso não é novidade. Comer menos calorias do que está acostumado, e alterar o balanço energético do corpo, de fato, faz qualquer indivíduo perder peso. 
A grande questão é: que peso é este que está sendo perdido?
Grande perda de peso em um curto período de tempo é, certamente, perda de massa magra. 
Perda de massa magra não é emagrecimento e sim envelhecimento (visto que quanto menor o conteúdo de massa magra, menor será a taxa de metabolismo basal e, portanto, menor o gasto energético diário...).

Mais interessante ainda, quando há a privação de energia para a célula, o que acontece a cada dia que se passa sem o consumo de carboidratos (ou seja, todos os dias em que a dieta volta a ser como na primeira etapa), aumenta-se o risco da resistência insulínica. Sim, aumenta-se, portanto, o risco de desenvolver diabetes mellitus (tipo 2) e de colher todos os malefícios da chamada síndrome metabólica (que inclusive reforça e reafirma a obesidade). 
Explico brevemente: quando há privação energética, os receptores celulares de glicose (capazes de notar a presença de energia) são todos exteriorizados, pois famintos, estão ávidos por energia. Quando o mártir voltar a ingerir uma dieta "normal", qualquer energia que aparecer será o suficiente para estimular os receptores. Uma dieta "normal" é então percebida como "muito", visto que qualquer presença de energia, por menor que seja, causará um grande impacto nestas células... Assim, o estímulo para o ganho de peso é muito maior. Daí segue os resultados que levam ao "efeito sanfona", acompanhados poe aquela pessoa que diz "engordei tudo de novo, e ainda mais!".
 Claro, judiou das células, agora aprecie os danos.  

Por fim, não posso terminar este texto sem antes ressaltar que é impressionante o jogo de cintura que se é preciso ter para que certos pacientes aceitem e incorporem os planos de dieta... Faz-se trocas, concessões, escolhas... Mas, quando é para seguir uma dieta absolutamente restritiva, sem fundamentação científica sólida, basta a promessa de "eliminar 5kg em 15 dias" que, rapidamente, se aceita consumir 5 minicenoura de colação e 2 ovos de codorna cozidos de ceia.
 

http://boaforma.abril.com.br/dieta/tipos-de-dieta-dietas-de-emergencia/menos-5-kg-15-dias-nova-dieta-dukan-730048.shtml