terça-feira, 30 de abril de 2013

O carboidrato a noite agora está liberado?

A proximidade da ciência da nutrição com a vida cotidiana faz dela relevante e de grande interesse social, fato este que, facilmente, assegura a sua divulgação. A nutrição, assim como toda a ciência, depende desta divulgação para que possa cumprir seu papel social. De nada vale uma ciência reclusa aos laboratórios, na forma de um conhecimento sem prática.

Enquanto material informativo, a nutrição agrada seus divulgadores, que notam seu potencial em despertar a curiosidade popular. Esta sinônimo de sucesso de vendas.

Sim, somos capitalistas, precisamos de dinheiro e visamos constantemente o lucro. Os veículos de comunicação, a despeito de seus preceitos enquanto "informadores da vida" são, sobretudo, empresas. E empresas buscam o lucro. O lucro é possível mediante a venda de seus produtos. Neste caso, produtos culturais. Até aqui nenhuma novidade.

O ponto de tensão, no entanto, se revela na qualidade da informação divulgada e, ainda mais intrigante, na sua construção discursiva.

Ao se dizer divulgador científico, o veículo de informação se assume "confiável". A credibilidade social aumenta de acordo com a abrangência que o veículo promete, inviabilizando o questionamento da veracidade das informações que divulga.

Pois é, qual é o profissional que consegue se opor a força de uma divulgação científica mal feita? Se está na revista... Deve ser verdade. O enfraquecimento da conduta (e até do conhecimento)  do profissional é inevitável.

Sem a ousadia de conflitar com "as pesquisas" e "os estudos" citados na matéria sobre as "novidades" da polêmica do consumo de carboidratos a noite, o inconveniente está antes mesmo da leitura de seu corpo. A manchete, digna de um jornalismo cor-de-rosa, incita uma informação que nada tem de verdadeira.

"Carboidrato a noite? Está liberado!" - Francamente. Há um oceano de distância entre a possibilidade de consumo e a completa liberação. Além da "novidade" para a sociedade - já muito acostumada com a dicotomia  dos "pode" e "não pode" da própria divulgação científica - a "liberação" soa como um grande PODE!

Veja bem, não estou dizendo que "não pode", aliás, sou avessa às orientações totalitárias - é preciso considerar a individualidade metabólica dos homens - mas, honestamente, quero ver um indivíduo consumir, de modo "liberado", os carboidratos que ilustram a matéria atingir suas metas pessoais de peso e medidas.



http://saude.abril.com.br/edicoes/0361/nutricao/carboidrato-noite-esta-liberado-735611.shtml


quarta-feira, 24 de abril de 2013

A deturpação da detox.

Com todo o respeito aos colegas de classe - e sem a menor pretensão em julgar condutas profissionais - inicio uma breve consideração a respeito das "dietas detox".

Na teoria, a dieta desentoxicante é uma restrição alimentar (expressiva), aliada a alimentos com propriedades importantes no hepatócito (com a finalidade de solubilizar compostos tóxicos, para que este sejam passíveis da eliminação orgânica). Inicialmente era aplicada como coadjuvante no tratamento de indivíduos intoxicados por metais pesados.

No universo dos aditivos químicos (alimentares, ou não; propositais, ou não), a dieta desentoxicante recebeu outra aplicação: na melhora da qualidade de vida e estado geral de uma população constantemente exposta a xenobióticos.

Pois bem. Essa era a sua função até "cair na moda".

A dieta, agora denominada carinhosamente de "detox", tem, sobretudo, a qualidade (mercadológica) de "reduzir 3kg em 15 dias".

De fato, uma dieta que propõe uma "limpeza" no organismo, com a retirada de irritativos e aditivos alimentares (presentes em praticamente todos os alimentos), rica em fibras e em água (características próprias das verduras e dos legumes), terá (realmente) um efeito emagrecedor (aliás, qual a real novidade aqui?).

 Ainda que não seja esse o objetivo principal da dieta, isso tem bastante chance de acontecer... Um efeito colateral que vira objetivo principal.



http://corpoacorpo.uol.com.br/dieta/dieta-de-emergencia/dieta-detox-limpa-o-organismo-e-enxuga-3-kg-em-15-dias/1902

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Machete & conteúdo!

A manchete chama atenção: Sete dicas para perder barriga.

Interessante é que neste caso, assim como em muitos outros, a manchete não passa de uma promessa que não apresenta soluções significativas no corpo do texto. A manchete, enquanto tal, se faz bastante efetiva: convida e estimula a leitura. O conteúdo no entanto não passa de um mero apanhado de informações que, enfeitada pelos títulos das suas fontes, não serão capazes de "tirar a gordura da barriga". 

Pois é... Adivinha só... Não há milagre para perder a barriga! 

1 - Faça atividade física + a dieta; (segundo os especialistas, a combinação é necessária!)
2 - Faça atividade física aeróbica;
3 - Na adianta só fazer abdominais;
4 - Tenha uma boa postura;
5 - Faça atividade física regular;
6 - Cada pessoa tem uma tendência individual ao acúmulo de gordura; (mulheres mais do que homens);
7 - Melhor o estilo de vida: não beba, não fume, não coma errado e faça exercícios;

Ok... Passamos pelas "sete dicas" e... Bom... O que fato mudou? 
Primeiro, destes tópicos, temos apenas três dicas: fazer exercício, ter uma boa postura e cultivar hábitos saudáveis. 
Segundo, qual a real novidade nestes tópicos?
Terceiro, como obter os resultados para "perder barriga" como a manchete me prometia?

No final, a sensação promovida nada mais é do que um "Tá bom..." de um leitor enganado pela manchete. E quantas vezes isso não acontece? Quantos produtos não consumimos desta forma? Quantas vezes não temos expectativas construídas assim?

Sim, perda de gordura corporal não é uma tarefa simples. É preciso obter um balanço energético negativo (gastar mais do que consumir) e para isso, ou se gasta mais, ou se consome menos, ou ambos... Mas um não exclui a importância do outro. Mesmo assim, no final de dieta e malhação, nada garante que a gordura específica do abdome tenha sumido... 

... Mas certamente, em outra revista, ou outro site seja possível de encontrar mais "dicas para perder a barriga".

PS: Por que será que não foi consultado um nutricionista a respeito deste tema?





segunda-feira, 8 de abril de 2013

Ah, os ideais...

Muito se fala sobre o ideal distorcido de beleza, sobre os padrões estéticos de perfeição e das curvas cirurgicamente (e virtualmente) delineadas dos ícones contemporâneos.

Muitos são os estudos a respeito do impacto na (in)felicidade das mulheres com a sua aparência e da sociedade de consumo que se satisfaz a cada compra impulsionada pelo estado de espírito feminino. 

Muito se discute das campanhas publicitárias que apresentam mulheres magras, jovens e com uma beleza incomum na ânsia da venda de produtos. Peças publicitárias que, ao compor o universo de conhecimento das pessoas introjetam um padrão de beleza distante do "comum" e o determina enquanto ideal. Ideal este, não apenas de aparência, mas de sucesso de felicidade. 

Muito se discute na louca mudança da "beleza brasileira" que já fora da mulata das curvas sensuais e agora se divulga pelos quatro cantos do mundo na forma da super model Gisele Bündchen (cuja imagem é "usada" para vender de chinelo de dedo à financiamento de imóvies, passando por televisão a cabo... De fato, não há público alvo que passa ileso por sua "beleza brasileira"). Brasileira? 

Enfim...

Ainda que seja indiscutivelmente importante "muito discutir" estes temas, vale lembrar que, junto com o ideal de beleza é vendido um ideal de saúde. Mais importante ainda, um ideal de saúde vinculado ao um ideal de beleza que, francamente, de saúde, pouco tem. 

Associar os padrões estéticos elaborados através do Photoshop é uma afronta com a beleza do corpo real. Agora, associar estes padrões estéticos com a saúde... Neste caso, não é injusto apenas com a beleza do corpo, mas com a sua sobrevivência. 

E qual é o risco de se corre? As vezes é difícil lembrar que para algumas coisas não há como "erase" como se faz no Photoshop.