quinta-feira, 22 de maio de 2014

Por que acreditamos nessas bobagens?

Constantemente me pergunto se as pessoas acreditam mesmo nessas bobagens...

... Estaríamos todos à mercê das promessas?  

Parece-me que sim. E, ao contrário do que eu pensava, noto isso cada vez mais.

Na prática, funciona mais ou menos assim:
(1)  Algo é escolhido como a bola da vez;
(2) Assim como o ar, se espalha por todos os cantos;
(3) Vira moda, referência e assunto;
(4) Atinge seu auge e, pouco a pouco, vai sumindo;
(5) Eis que o ciclo segue adiante com a próxima novidade... (Ah, o consumo! Ah, a fluidez!)

A linhaça, a chia, o chá verde (branco, vermelho, amarelo), óleo de coco, a gojy... Nem me faça começar, que a lista é enorme. Todos com promessas bastante objetivas, fortemente atreladas à estética (que tem a magreza como sinônimo contemporâneo).  

Da publicação “confiável” (aquela que adora colocar alimentos como “vilão e mocinho”) à blogueira (que só indica os “superalimentos” que a patrocina), estes estão por todo lados. A sua evidência é instigadora e, atropelando as diferenças de gênero, faixa etária, etnia, ou grau de instrução, parece atingir a todos.

Desafiador, não?

O que será que faz uma criatura crer, dia após dia, em promessas milagrosas? Se alguma delas fosse suficientemente verdadeira, porque será que elas não cessam em aparecer? Se o óleo de coco foi milagroso para “perder barriga”, porque emagrecer com a gojy então?
Mas parece que a novidade também nos agrada. Agrada o mercado, sem dúvida - ué, se a dieta da revista fazia secar 4kg em 1 semana, porque mesmo que eu deveria comprar a próxima edição? É preciso renovar. 
Sempre!

Sem a pretensão de discutir neuromarketing (até mesmo por ser, nesse assunto, mera interessada), fica muito difícil seguir com o pensamento sem antes triscar no nome da dopamina. Na minha humilde opinião, ela é uma grande responsável pelo fenômeno.

A dopamina é o neutrotransmissor do “quero mais”. Está envolvida no vício e no condicionamento de recompensa fisiológica. Corpo é bicho e, para estar onde estamos hoje, teve que sobreviver à adversidade, assim, fomos feitos para agir conforme as respostas de prazer: se algo é gostoso, ele será compreendido pelo cérebro ancestral como “bom”, e este é o gatilho para “querer mais”.

Condicionada às coisas boas, a dopamina pode também ser liberada mediante a antecipação de um acontecimento ou de uma situação de prazer. Sim, o pensamento (nunca duvide da sua força!) pode promover uma enxurrada de dopamina.

Considere com atenção... Não é prazeroso pensar que encontrará amigos queridos hoje a noite? Que suas férias estão por vir? Ou devanear sobre o que faria se ficasse milionário da noite pro dia?  

Eis a dopamina-de-pensamento. Que, claro, também pode ser dopamina-de-promessa.   

Não é inspirador ver aquelas fotos de antes e depois? Ou, o corpo livre de imperfeições da modelo que faz uso de tal produto, ou de tal dieta? Não seria ótimo se, engolindo cápsulas ou chás, nos construíssemos de acordo com nossos sonhos?

Pois então...

Dopamina na veia, muitos produtos milagrosos no armário, e “revistas femininas” como livros de cabeceira!


quarta-feira, 14 de maio de 2014

O fetiche-da-restrição!

Na prática de consultório, ao rolar a página das redes sociais, ou como mera ouvinte de diálogos em lugares públicos, me impressiono com o fetiche-da-restrição.

Não é de hoje, eu sei, mas cada vez mais, dia a dia, noto uma constante euforia com as novidades milagrosas da restrição: a dieta sem lactose promete o (popular) “desinchaço”; a sem glúten, promete “tirar a barriga”; a sem carboidrato, promete o emagrecimento imediato; aquela a base de frutas, diz da melhor disposição.... E isso é só o começo!

Acho particularmente interessante o paradoxo que surge desse fetiche. E isso, independe do resultado que se objetiva mas, sem dúvida, torna-se ainda mais claro quando este é estético.  

Pense aqui comigo: ao mesmo passo que se busca a “facilidade” em atingir os resultados (sim, as pessoas não querem emagrecer, mas sim serem emagrecidas), quanto mais árdua for a jornada (desde que ela dure pouco tempo), melhor!

Pois então, me parece que quanto mais restrita for a dieta e mais sem graça forem as opções, mais se vangloria do resultado. Parece que, em algum momento, não sei bem quando, o sofrimento tornou-se premissa para o sucesso, fato este tão bem aceito que, já de antemão fazer dieta ficou ruim.

Lamento.  E muito.

O fetiche-da-privação não apenas propaga uma falsa noção de dieta, como (e ainda mais importante) uma falsa noção de “bons resultados”, fazendo deste fetiche força motriz para a eterna melancolia do consumo alimentar: as pessoas comem cada vez menos, e estão cada vez mais tristes com seus corpos.

Belo favor nos faz, não?   


A nutrição não é uma ciência de fins. É uma ciência de meios.