quarta-feira, 30 de julho de 2014

Geração Treino&Dieta

Com dada frequência vejo "citações motivacionais" sobre os temas que orbitam o universo da construção do corpo através da alimentação e da atividade física. Normalmente eu não dou muito valor a elas... Me entristeço, fico apreensiva, mas considero que isso, assim como muitos outros maus da humanidade, perderá força um dia. 
Hoje, no entanto, foi diferente. 

Minha apreensão se fez para além da nutrição, ciência que cuido com muito carinho - sempre com o #foco em ser feliz! 
Minha tristeza veio sobre a "filosofia" treino&dieta e, mais ainda, do tipo de pessoa que ela cultiva. Pessoas estas, que precisam ser melhores do que os outros, e que não podem se dar ao "luxo" de comer com prazer, nem de "pular" um treino.

Ter motivação, objetivos e metas na vida é uma escolha pessoal. Própria. Digna. É o que nos faz acordar cedo, estudar, trabalhar, criar laços, construir histórias. 
Fazer escolhas baseadas nestes objetivos é, sem dúvida, muito importante para atingi-los. Assumir os esforços para alcançar estas metas é, também, indiscutível ao sucesso. 
Digo isso em relação a vida... (Longe de mim ser dona da verdade, mas me parece bastante plausível).

Pergunto eu: será que resumir os objetivos e metas da vida às formas corporais é algo que queremos para nós? Para nossos filhos? Para os filhos de nosso amigos? Para as gerações que estão por vir?

Sigo nas indagações: será que esta competição entre "quem é melhor" é um valor que devemos multiplicar? Será que é "justo" cultivar o senso de que "ter o corpo que se quer é possível através da dedicação"? Não haveriam condições anteriores a isso? 

E, finalmente: será que admiração física e inveja vão resumir essas metas e objetivos? Então quer dizer que todo o esforço, toda a privação e todo o determinismo de um, foi feito, na verdade, para o outro?

Nunca fomos tão livres, tão cheios de escolhas e de possibilidades na vida... E, no entanto, nunca nos aprisionamos tanto em uma mandatária necessidade do "sucesso-do-corpo-perfeito". 



quarta-feira, 23 de julho de 2014

... Posso dar uma dica?

Será que posso dar uma dica?
O dito popular é categórico: se dica fosse boa, era vendida, não dada.

Ok.

Mas aí, de repente, eis que diqueira virou profissão e a dica passou a ter valor de troca.

Ah... Essa liquidez do "mundo moderno". Que será que aconteceu? Será que a dica ficou boa? 

Eu arrisco um palpite, assim, como quem não quer nada.

No meu ponto de vista, juntando retalhos do pensamento, e correndo grandioso risco de hedonismo (mas tudo bem, no mundo das dicas, que mal faz um pensamento fragmentado?) quem mudou foi o contexto. Não a qualidade da dica.

É que, na prática, se os valores do contexto sofrem alteração, o conteúdo - ao menos o modo com que é percebido - também se altera.

No universo das aparências, com as relações intermediárias pelas imagens, com a essência doravante convertida de "ser" à "ter", agora reduzidas à "parecer", o que nos resta é acreditar na imagem. O que podemos além disso? Como duvidar de "resultado" que ela estampa? Como negar a qualidade da informação vinda de uma imagem que diz (que grita!) o "sucesso"? 

Ah... Aí fica fácil de "entender" o valor (comercial) da dica. Fica fácil de "entender" quando o corpo vira capital. Mais, qunado a imagem deste corpo vira capital. Quando a imagem vira o consumo...

Mas, enfim.

Retomando meu pedido inicial, posso dar uma dica? Mesmo sem todo esse fetiche? Mesmo se for uma dicazinha assim, meio sem graça? Meio "sem espetáculo"?

Então aí vai: acho que é melhor escolher o caminho do meio.

Eu acho que é melhor escolher ser mais ameno, mais gentil, mas respeitoso, mais humano. Acho que vale cultivar a empatia.

Eu acho que é melhor respeitar a diversidade. Respeitar o que é felicidade para os outros. Porque os outros são, desculpe o óbvios, os-ou-tros!

Vamos escolher o caminho do meio! Sem as duras e frias "verdades absolutas", sem o "veementemente a favor", nem o "completamente contra". Sem moldar pensamentos: nem pra lá, nem pra cá.

Escolher o caminho do meio, ao contrato do que pensam, não é ficar indeciso ou indefinido, é escolher o distanciamento para ponderar, equilibrar e, sobretudo, por em prática o respeito ao próximo. 

O caminho do meio não briga com ninguém, é mais compreensivo e abre as portas.

O caminho do meio recebe aqueles que querem um pouco mais disso e aqueles que querem um pouco mais daquilo. Sem euforias. Sem pré-conceitos.

Mas ó, relaxa... Se não achar que vale a pena, tudo bem... Era só uma dica mesmo! ;)


terça-feira, 15 de julho de 2014

Desculpe, mas isso não é nutrição!

Não foi só uma vez... Nem duas... Nem três.

É significativo - e muito triste - o número de vezes que me deparo com premissas desafiadoras direcionadas à minha prática profissional. Não à minha propriamente dita, mas àquela que escolhi como minha.

"Quero estar longe de um nutricionista!", "Com tudo que já ouvi de nutrição, quero passar longe de um!", "Não quero ninguém me dizendo o que posso ou não posso comer!", "Eu já sei o que devo fazer!"... Que aperto no coração, que dor que me dá!

E se eu dissesse que não somos isso? Que não estamos aqui para ditar regras, traçar metas e ajustar manequins?

E se eu dissesse que não somos fiscais? Que nosso objetivo por aqui é a militância pelo bem comer? Que eu, nem se quer, uso os termos "pode" ou "não pode" nas minhas consultas?

E se eu dissesse que não temos essa pretensão? Que nunca a tivemos? Que, na verdade, foram os outros que construíram este esteriótipo e nos deram de presente?

E se eu dissesse que esse interpretação que se tem de nutrição, para nós, não faz o menor sentido?

E se eu lembrasse que existe uma diferença importante entre "dicas" e "ciência"? E se eu dissesse que escolhemos a segunda opção?

E se eu dissesse que nosso objeto de estudo é interação dos alimentos com o corpo? Que, para discutir a respeito, precisamos de conhecimentos de fisiologia e bioquímica, para sermos capazes de explicar, em um papo sério, aquilo que tantas pessoas buscam quando procuram informação sobre "dieta", ou seguem mussas fitness no "insta"?

E se eu dissesse que, na ciência, a certeza e a verdade absoluta são pura utopia? Mas, que mesmo assim, não nos deixamos cair na tentação dos milagres sem fundamento que tanto nos apresentam?

Será que, se eu dissesse tudo isso, acreditariam mais em nós?

Será que, se eu dissesse tudo isso, sofreríamos menos preconceito daqueles que formaram suas opiniões através de um olhar distorcido?

Será que, se eu dissesse tudo isso os colegas de área - nessa onda do "sem modismo"- , eles perceberiam que não vale apoiar aspirações contra a nossa classe, mas sim disseminar o nosso verdadeiro papel social? Mais ainda, será que perceberiam que, assim como acontece em toda área, cada profissional tem a liberdade para buscar sua linha de atuação e, assim, poderemos agradar os mais diferentes públicos?

Será?