segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Meu Belo Ideal Frankenstein

Com frequência surpreendente, noto certo comportamento intrigante nas mulheres - não apenas, mas principalmente - quando se referem ao seus corpos... No consultório, na praia, na padaria, na loja de biquíni, aonde quer que seja, o discurso da estética do corpo se faz aos pedaços.  Um todo meio bagunçado, construído parte a parte. 

Me parece que montamos um ideal baseado em referências diversas. Difusas. De conjuntos e composições diferentes. Uma barriga menor, um quadril maior, uma curva a menos, outra a mais...

Talvez estejamos muito acostumadas a ver mulheres aos pedaços por aí - divulgando os mais variados produtos e emoções - e então a noção de totalidade do corpo se diminui (ou se perde). 
Talvez nossas expectativas estejam associadas àquelas que assistimos na televisão e vemos na revista - que precisam esconder suas "falhas" a qualquer custo, e quando não seguem a regra, viram notícia (?) nos tablóides, sites e mídias sociais.  (Sejamos honestos, a beldade que "exibe o corpão na praia" recebe menor notoriedade do que a celebridade que está "imperfeita" curtindo uma praia... Ficamos estupefatos e criticamos aquela que usou hidrogel e quase morreu, mas nos indignamos com a ausência do "corpão".)

Passeando pela internet, me deparei com um breve vídeo qua valeu a atenção (http://www.hypeness.com.br/2014/02/video-mostra-reacao-de-mulheres-apos-receberem-as-proprias-fotos-tratadas/#). Se trata de uma experiência realizada com mulheres "comuns" que tiveram seus corpos emprestado às capas de revistas e às suas propagandas, de tal modo que são utilizados de acordo com os caprichos da imagem comercial, tal e qual as modelos que vemos: eles são arrumados, embelezados, maquiados, penteados, fotografados e photoshopiados. 
Assim como todo representante contemporâneo, elas bem sabem como são estas modelos (ou, ao menos sabem como são as imagens delas) e, por mais que não busquem friamente ser como elas, há aquela pontinha de pretensão que todo "ideal" propõe.... Ao serem apresentadas as suas próprias imagens de acordo com os padrões das revistas, veio a decepção pessoal (e coletiva): a perda da identidade, a falta das qualidades individuais, das graças únicas que, embora não as façam "perfeitas" as deixam ser quem são. 
Como cover-models, são todas muito parecidas, como se uma cortina as fizessem lindas-perfeitas-e-prontas à exposição. A beleza da imperfeição polifônica virou fumaça! 

Apesar de poder ser modelado, ajustado e alinhado, o corpo não é, de fato, aos pedaços. O todo o constrói na beleza dos gestos, trejeitos e sorrisos, aquela estampada na imagem é um ideal que talvez não dê espaço à felicidade: talvez a vida transborde silhuetas tão enxutas.



 

domingo, 18 de janeiro de 2015

#projetoverão lhe concede o sol

Desde julho do ano passado que ouço do tal projeto verão. Em setembro, os cartazes de promoções de tratamentos estéticos citando esse projeto começaram a aparecer por aí. E mais intensamente,em novembro e dezembro, ele virou febre, viral e charge. 

Muito embora cada lugar o apresente de modo diferente, os contornos do corpo, os cuidados com a beleza e a "felicidade em se exibir" estão sempre presentes. 

Na revista feminina, as moças aparecem de biquíni, com a pele adoradada, os cabelos deslumbrantes e a maquiagem impecável - em um visual que nada lembra um dia divertido na praia. 

Nas propagandas, os corpos cujas silhuetas são absolutamente precisas, estampam o modelo de beleza e valorizam os "atributos da mulher à mostra". É momento de se mostrar! 

Nos hashtags da vida, o "projetoverão" que vinha acompanhando selfies de treinos e fotos de pratos de salada+grelhado, apresentam o sucesso daquelas que se disciplinaram em prol da beleza e agora, quando o projeto verão vira o próprio verão, podem "se expor sem medo". 

Pois então... 
Mas o verão não era para ser... Simplesmente o verão? Não era a época em que se acordava tarde, tomava café da manhã gostoso e se preparava para o dia na praia? Essa preparação, pelo que me lembro, não era se lambuzar de protetor solar, colocar o bikini, pegar a garrafinha de água e ir para a areia?

Não era o momento do ano que tomar sorvete antes do almoço era permitido? E que o cabelo ficava preso e cheio de água salgada até o sol cansar e ir dormir atrás do mar? 

Será que precisa de uma força tarefa para isso? É preciso cumprir certos desafios e atender a dadas expectativas corporais para ter um bom verão? Mais ainda, para ser "liberada" a usar o bikini? 

E se eu não atender aos requisitos propostos? Se minha barriga for maior do que da moça da revista? Se meu bumbum tiver mais celulite do que da moça da propaganda de cerveja? Se eu não for bronzeada como a atriz da novela? Se eu tiver estrias que a moça do catálogo de bikini não tem? 
Será que não vou poder usar a praia? Vou ter que ficar de canga? 

Mas não era esse o momento do ano de relaxar? 
É, me parece que, para alguns, o projeto verão roubou isso. 

Sem a pretensão de fazer apologias (nem ao cuidado excessivo, tão pouco a falta de cuidado), mas com a intuito de levantar a bandeira da felicidade, hoje noto que aquela que é menos preocupada em ser, ter e aparentar é, sem dúvidas, a mais feliz! 

Minhas caras, o verão é para todas! O sol não escolhe iluminar apenas quem atende certos padrões! ;)