sábado, 13 de agosto de 2016

Padrão de beleza: criatura & criador.

Ah, o tal padrão de beleza...

Tantos são os textos a seu respeito, as discussões sobre seus caprichos e, indignados que somos, tantas são as nossas acusações a seu imperialismo. Ele é duro e cheio de melindres. É difícil de ser conquistado, custa caro e não dá garantias de sua permanência.

O tal padrão é rigoroso e, em seu esquadro, poucos se encaixam. Manda a despeito do gênero, e finge não notar as diferentes faixas de idade: seduz crianças, instiga jovens, incomoda adultos e desalenta os já mais experientes.

O padrão é aquela beleza que se vê por aí, desfilando nas passarelas e nas ruas pelas quais não caminhamos. É a beleza da capa da revista e da novela, que está na modelo e na atriz famosa que não somos. É a beleza da propaganda de shampoo, de sorvete, de pasta de dente, de absorvente, que mostra uma beleza natural que, de fato, não temos. 

É uma beleza que não nos pertence. Uma beleza do outro. Que vive no outro. E que nos é constantemente prometida.  Nos é vendida enquanto intenção, e se faz desejo na prática.

É uma beleza que segue um padrão que não temos. Uma norma que não aceita a nossa. Linhas e formas que, de tanto se dizer natural, se naturalizaram. E assim segue, dia a dia, mês a mês, de geração em geração. 

O desejo de ser padrão é mais forte que a consciência de que o padrão, nada mais é do que o próprio desejo. E se a naturalização de um padrão já é suficiente para dar-lhe força, a naturalização de um desejo é então mandatária.  

Como negar algo tão orgânico?  Como não respeitar aquilo que é tão comum?

Queremos o padrão, buscamos encontrá-lo em qualquer detalhe, e fazemos tudo em seu favor. Construímos uma vida repleta de balizadores para conquistar algo que nos foi dito ser tão natural... E, sem querer, quem virou o padrão foi a vida que o promete.

E eis que os esforços em busca do padrão são então, igualmente, padronizados. Já os conhecemos e, no limite do possível (as vezes do impossível), os colocamos em prática. Optamos pela salada, pela água e por aquele lá: o de menor caloria. Escolhemos sem chantilly, só com adoçante, e o mais skinny. Pedimos sem molho, sem sal e sem graça. Reduzimos as porções, diminuímos o sabor e limitamos os bons momentos. Aumentamos a culpa do erro, enxugamos as lágrimas do descontentamento e seguimos na labuta pelo padrão – que afinal, e novamente, nos é tão natural.

Temos a consciência de que nosso padrão é maquiado, ajustado e retocado. Sabemos que é um desenho encantador e, muitas vezes, até sabemos que está lá para ser vendido enquanto desejo. Sabemos que a moça que come o chocolate na propaganda pouco o come de fato, e que aquela que desfila no jingle de cerveja dificilmente aceitaria o desafio de passar uma tarde sentada em um bar, consumindo da bebida que pagou seu cachê. Sabemos que os dentes não são assim brancos, que os cabelos não são assim brilhantes e que nem todo mundo é magro e esguio. Sabemos até mesmo, que as imagens são trabalhadas antes e depois de serem registradas, que a luz é de mentira, o retoque é cibernético e que, na vida real, este nosso padrão é uma invenção de beleza... Mas isso pouco importa. A norma continua lá, sempre lá.

O curioso é, que por mais distante que seja esse tal padrão, e que sua beleza nos pareça imposta, vivemos na dualidade de sua conivência e negação e, de fato, a adoramos como idealizadores dela que somos.

Insistimos em lhe fazer referência em terceira pessoa, mas somos criadores e mantenedores da sua destreza.

Padrão de beleza imposto? Sim, mas por quem exatamente?

 Idealizamos seus contornos e reforçamos seus desenhos. Aplaudimos suas normas nos outros e, dia a dia, nutrimos sua intocabilidade. Quem naturaliza o padrão não é “uma sociedade”, alí, lá longe...  Somos nós. Assim como  “padrão de beleza imposto”, também nos pertence, é criador e criatura do nosso próprio desejo.  

Ah, o tal padrão de beleza...

Fácil rechaça-lo no discurso, difícil é desdizê-lo em público. Fácil ser contra a sua imposição, difícil é abraçar a causa e a responsabilidade de fazer parte desta imposição. Fácil é nota-lo por ai, difícil é parar de consumi-lo. 


Padrão de beleza: criatura & criador.

Ah, o tal padrão de beleza...

Tantos são os textos a seu respeito, as discussões sobre seus caprichos e, indignados que somos, tantas são as nossas acusações a seu imperialismo. Ele é duro e cheio de melindres. É difícil de ser conquistado, custa caro e não dá garantias de sua permanência.

O tal padrão é rigoroso e, em seu esquadro, poucos se encaixam. Manda a despeito do gênero, e finge não notar as diferentes faixas de idade: seduz crianças, instiga jovens, incomoda adultos e desalenta os já mais experientes.

O padrão é aquela beleza que se vê por aí, desfilando nas passarelas e nas ruas pelas quais não caminhamos. É a beleza da capa da revista e da novela, que está na modelo e na atriz famosa que não somos. É a beleza da propaganda de shampoo, de sorvete, de pasta de dente, de absorvente, que mostra uma beleza natural que, de fato, não temos. 

É uma beleza que não nos pertence. Uma beleza do outro. Que vive no outro. E que nos é constantemente prometida.  Nos é vendida enquanto intenção, e se faz desejo na prática.

É uma beleza que segue um padrão que não temos. Uma norma que não aceita a nossa. Linhas e formas que, de tanto se dizer natural, se naturalizaram. E assim segue, dia a dia, mês a mês, de geração em geração. 

O desejo de ser padrão é mais forte que a consciência de que o padrão, nada mais é do que o próprio desejo. E se a naturalização de um padrão já é suficiente para dar-lhe força, a naturalização de um desejo é então mandatária.  

Como negar algo tão orgânico?  Como não respeitar aquilo que é tão comum?

Queremos o padrão, buscamos encontrá-lo em qualquer detalhe, e fazemos tudo em seu favor. Construímos uma vida repleta de balizadores para conquistar algo que nos foi dito ser tão natural... E, sem querer, quem virou o padrão foi a vida que o promete.

E eis que os esforços em busca do padrão são então, igualmente, padronizados. Já os conhecemos e, no limite do possível (as vezes do impossível), os colocamos em prática. Optamos pela salada, pela água e por aquele lá: o de menor caloria. Escolhemos sem chantilly, só com adoçante, e o mais skinny. Pedimos sem molho, sem sal e sem graça. Reduzimos as porções, diminuímos o sabor e limitamos os bons momentos. Aumentamos a culpa do erro, enxugamos as lágrimas do descontentamento e seguimos na labuta pelo padrão – que afinal, e novamente, nos é tão natural.

Temos a consciência de que nosso padrão é maquiado, ajustado e retocado. Sabemos que é um desenho encantador e, muitas vezes, até sabemos que está lá para ser vendido enquanto desejo. Sabemos que a moça que come o chocolate na propaganda pouco o come de fato, e que aquela que desfila no jingle de cerveja dificilmente aceitaria o desafio de passar uma tarde sentada em um bar, consumindo da bebida que pagou seu cachê. Sabemos que os dentes não são assim brancos, que os cabelos não são assim brilhantes e que nem todo mundo é magro e esguio. Sabemos até mesmo, que as imagens são trabalhadas antes e depois de serem registradas, que a luz é de mentira, o retoque é cibernético e que, na vida real, este nosso padrão é uma invenção de beleza... Mas isso pouco importa. A norma continua lá, sempre lá.

O curioso é, que por mais distante que seja esse tal padrão, e que sua beleza nos pareça imposta, vivemos na dualidade de sua conivência e negação e, de fato, a adoramos como idealizadores dela que somos.

Insistimos em lhe fazer referência em terceira pessoa, mas somos criadores e mantenedores da sua destreza.

Padrão de beleza imposto? Sim, mas por quem exatamente?

 Idealizamos seus contornos e reforçamos seus desenhos. Aplaudimos suas normas nos outros e, dia a dia, nutrimos sua intocabilidade. Quem naturaliza o padrão não é “uma sociedade”, alí, lá longe...  Somos nós. Assim como  “padrão de beleza imposto”, também nos pertence, é criador e criatura do nosso próprio desejo.  

Ah, o tal padrão de beleza...

Fácil rechaça-lo no discurso, difícil é desdizê-lo em público. Fácil ser contra a sua imposição, difícil é abraçar a causa e a responsabilidade de fazer parte desta imposição. Fácil é nota-lo por ai, difícil é parar de consumi-lo. 


quarta-feira, 27 de julho de 2016

Paciência e prudência: virtudes que não temos mais.


"Quero secar."
"Quero um tratamento de choque."
"Preciso ver resultado rápido, se não desmotivo."
"Essa gordura precisa derreter."
"Tenho um mês para caber no vestido."
"Meu treino é tão bom que me faz vomitar."

Ah essas nossas necessidades de hoje em dia...

Permaneço apoiada no discurso que nosso corpo é bicho - não é mecânico, é metabólico.
E ao dizer isso, o que de fato estou considerando é que ele tem o seu próprio tempo.
Ademais, por ser bicho, o corpo literalmente vive para se manter vivo. 

Corpo tem medo de morrer e para lutar contra isso desenvolveu um arsenal de alternativas para superar a adversidade, driblar o stress e reverter prejuízos. 

Pois bem, e então é a partir deste conhecimento simples, que penso nas nossas virtudes difíceis de encontrar: paciência e prudência. 
No cuidado com o corpo é preciso dar-lhe seu tempo, e certamente, agracia-lo com conforto. 

Em momentos de crise você gasta ou guarda? 
Pois é, o corpo também. 

Veja só... Se o corpo tem regras próprias, me parece mais inteligente estudá-las para que sejam empregadas a nosso favor, do que ficar berrando aos quatro cantos os nossos caprichos. 
No final, e isso a evolução muito bem nos ensinou, quem acaba ganhando é a biologia, sempre.

Bastante lógico, não? 
Uhum, mas desde quando aprendemos a esperar...?

As leis do corpo - justamente por preservarem a vida - não nos permite certos "resultados" em um mês, dois, três... Como o corpo está mais preocupado com a manutenção da vida do que com qualquer outro anseio pessoal, ele se limita a passear enquanto as expectativas o querem correndo. 
Pois é, falta paciência.

E então, na angústia de ver "o resultado", tira-se comida, aumenta-se atividade física, troca arroz e feijão por salada e jantar por shake. Não tem mais o vinho no sábado à noite, nem a pipoca no cinema, nem o bolo da tarde. Às vezes, não tem nem molho na salada, nem manteiga no pão, às vezes nem pão, nem leite, nem nada... 

Reduz, corta, seca (não só a comida, mas a felicidade). E então, o resultado começa a vir - ou vem. 
Mas, note só, vendo aqui de fora, a minha vontade é perguntar: "é mesmo possível viver a vida assim?". 

Pois é, falta prudência.

O que será que o corpo, aquele mesmo que queria preservar a vida a qualquer custo, vai entender depois de tanta falta de paciência seguida da falta de prudência? 
... Lhe digo: "quem manda aqui sou eu, e eu, meu caro, tenho paciência e prudência de sobra para fazer do meu modo.".

Vem o rebote, o resgate, o "efeito sanfona". Vem a desmotivação, a tristeza e a sensação de impotência. 
Vem culpa.

Mas já sabíamos, não é mesmo? 
Tem efeitos que são naturais, não adianta brigar contra - mais vale ter paciência e prudência para dribla-los.

Que tal ir com menos sede ao pote?
Que tal dar conforto ao corpo?
Que tal parar de viver por um objetivo e de fato viver? 
Que tal ter um pouco mais de paciência e prudência? 








quarta-feira, 25 de maio de 2016

"Não é desculpa, mas..."

Por uma realidade sem culpas e um discurso sem desculpas.

Tem vezes que escuto: "não é desculpa, mas..." - e aí, segue a explicação que, de fato, nunca "é desculpa". Aliás, queria que alguém me explicasse o que seriam estas tais "desculpas"... 

 Às vezes, a realidade do relato que segue é complicada, outras são tristes, algumas surpreendentes, duras, emocionais... Às vezes, são simples, parece até que não importam tanto assim...  Mas, de verdade? Quem sou eu para julgar? Cada um tem seu fardo. E para cada um, o fardo tem seu valor. É preciso respeitar isso. (Não só eu, mas o próprio indivíduo que sofre com ele.)

 A vida é assim.
Sempre terão altos e baixos, momentos para celebrar, momentos para se amar, se cuidar, e se gratificar - e se estes momentos "derrubam a dieta" e "matam o exercício", pois bem, que tenhamos consciência para aceita-los, abraçá-los, e remedia-los depois, quando o tufão passar. 
De verdade, os piores remédios são a culpa, a desculpa e a cobrança - repito, a vida é assim. 

Desde quando o stress a insatisfação e a cobrança estão em um cenário saudável? Pois então.

Não é desculpa mesmo.
Não precisa se desculpar por não seguir dieta, por não treinar, por não ter disciplina.
A vida é assim, cheia de coisinhas.
Não é desculpa, é vida - é a vida acontecendo.

Por menos incentivos culposos, por mais sorrisos... O foco não é nos afazeres e no que deveria ter sido cumprido, meus caros, o foco está em ser feliz. 


quinta-feira, 28 de abril de 2016

Não é melindre, é respeito à ciência.

Com muito medo de ser antiética, e antiprofissional, hoje, preciso escrever sobre um tema que tanto me atrapalha.

Não quero ser pedante, mas, é sério, quem deve prescrever dieta é o nutricionista. Eu juro, nós aqui, com o esse diploma e essa formação...

Não é médico, como acham por aí. (Inclusive o padre pop.)
Não é acupunturista, como pregam algumas.
Não é fisioterapeuta especialista em estética, como ouvi por aí.
Não é a blogueira, como seguem (e dão likes) alguns.
Não é o educador físico, como pregam outros.

Somos nós. Aqui, ó! 
o/

Estas últimas semanas foram marcadas por grandes desafios em consultas, daqueles com direito a moças de olhos marejados, tristezas de um esforço jogado fora e de um ideal-de-magreza que não nos dá liberdade... 

Teve médico que levou paciente à esteatose hepática medicamentosa, e à inflamação intestinal por uso contínuo de medicamentos desabsortivos (sabe aquele "bem levinho" que diminui absorção de gorduras?).

Teve acupunturista que cobra uma nota para prescrever uma dieta de privação de calorias e, uma vez por semana, coloca o paciente para comer (compulsoriamente) meio kilo de bolo floresta negra, estimulando, como bem se vê, uma excelente qualidade alimentar e uma saudável relação com a comida. (Desculpe, não me contive na ironia aqui.)

Teve matéria em um jornalzinho de fisioterapia de um programa de emagrecimento gerenciado por uma fisioterapeuta que, além da atividade física, se gabou da prescrição de uma dieta-saudavel-para-emagrecimento. E aí eu me pergunto... Quantas foram as aulas de dietética, nutrição normal e dietoterapia que essa profissional assistiu?

Teve mais e mais gente me mandando mensagem porque leu-no-insta-que-segue e que a blogueira MARÁ, diz que um suco detox-fit-plus (feito com um produto que a patrocina) é TOP para perder barriga. 
Vale lembrar que a máxima que "se deu certo pra ela, ela sabe o que diz", tem um peso enorme da mídia - mais ainda na mídia social, mais ainda em quem quer acreditar em uma promessa. 

Teve educador físico que prescreveu dieta de abacate, banana, frango, clara de ovo e só. Só. Somente só. 

Notem, por favor, que não estou aqui apontando o dedo. Que tenho certeza que, assim como maus, temos bons exemplos. Temos profissionais sérios que sabem aonde começa e termina às respectivas atribuições, que respeitam o trabalho multidisciplinar e têm alma e coração no trato com seus pacientes/clientes. 
Como também tenho consciência que temos maus exemplos por aqui, na nutrição. 

Uma ciência que é tão próxima do cotidiano, acaba por parecer "fácil" aos olhos de quem orienta na prática, mas eu juro que tem um bocado de ciência seria por trás. Juro que não é simples prescrever uma "dietinha". E que, se feito bem feito, trás resultados de verdade - não para ontem, mas sim, para um ótimo amanhã. 

E é justamente por isso que vale a discussão: lidar com promessas e expectativas dos outros, principalmente quando falamos de estética em um universo que demanda padrões secos, requer responsabilidade do profissional e, sobretudo, requer respeito. 

Em um olhar curioso, acho que é bem isso que falta: responsabilidade na conduta e no embasamento dela, e respeito ao próximo e à ciência. 

Não é melindre pessoal, não é ego, não é mimimi, é o que é. Cada macaco no seu galho. 

Obrigada.


sábado, 2 de abril de 2016

Por dias sem culpa.

"Docinho light para comer sem culpa."
"Dicas de carboidratos para comer sem culpa."
"Lanches rápidos para comer sem culpa."
"Receitas magrinhas, gostosas e sem o peso da culpa." 
Culpa, culpa, culpa...

A indústria da dieta e suas culpas de conduta.
A publicidade-para-a-mulher e suas culpas estamparas nos corpos mais bonitos do mundo.
A conversa entre amiga e suas culpas de hoje é de ontem.
O final de semana e suas culpas continuas.

Uau... Quanta culpa! 

Quando será que instituímos que comer o que se gosta é tamanho mal, que nos sentimos culpados? (Mais ainda, que nos sentimos culpadas?) 

Será que já paramos mesmo para pensar o que é, originalmente, a culpa?
Me permita aqui - ela é, por definição, (1) responsabilidade por dano, mal, desastre causado, e; (2) falta, delito, crime.

Comer um bombom é um desastre? Tomar vinho com o esposo é um delito? O bolo de aniversário do colega no escritório é um dano? Sair da dieta é crime? Que mal todo é esse, que tanto vivemos?

Entendo que ter escolhas que não nos faz bem pode ser realmente um problema. Esquecer de tomar um antibiótico no horário, fumar, beber em excesso,  negligenciar o protetor solar, dirigir escrevendo mensagem no celular, descuidar do colesterol alto e da pressão fora do controle... Sim, de fato, podem todas serem consideradas escolhas ruins e, no limite, podem levar a culpa - e, claro, à consequências estrondosas.
Mas, sair da dieta lá e cá... Seria para tanto? Tão deletério que se revela motivo de culpa? Sério?

Creio que, no mesmo momento que abraçamos os ideias de aparência (corpo segui, slin, skinny-freak e fitness) instituímos de tabela a culpa. 

Hoje, por aqui, ela foi nivelada por baixo e todo mundo a compartilha. 

Quantas não são as vezes que escuto de um alguém querido, que se esforça lindamente para ser uma boa pessoa, mais saudável, mais disposto e mais feliz consigo mesmo a frasezinha "ah, mas aí, depois de comer, me dá uma culpa..."? 
Garanto, são muitas. E, de verdade, me parece um paradoxo constante: como se fazer mais feliz com tanta culpa? Como estar bem consigo mesmo e, ao mesmo tempo, cumprir todos os deveres (e contornos) que o mundo nos cobra?

Amiga da disciplina exagerada e do #foco, a culpa é dura, mal-educada e não pede licença. Nos põe pra baixo, nos entristece e nos desmotiva. 

Queria tanto conseguir ter uma voz persuasiva o suficiente para explicar que o corpo pouco entende algumas diferenças de consumo, que "engordamos" mais na privação do que no conforto, e que a fisiologia aceita bem as variações de rotina quando a disciplina (não exagerada) e o #foco (em ser feliz) são mais constantes que a culpa. 

Ah, como eu queria... Como eu queria dias com menos culpa. 



terça-feira, 26 de janeiro de 2016

"Não jogue fora seu resultado em um final de semana!" Bah...



Sabe o que tenho vontade de responder quando vejo isso?

Estudem.
Pesquisem.
Sejam menos mandões.
Sejam mais realistas.
Tenham alma.

Vamos ponto a ponto comigo? Vai ver que vale o pensamento...

Estudem. 
É.
Porque estudar requer senso crítico. 
É diferente de repetir o que se lê. 
É diferente de falar aquilo que já se "sabe". 
Estudar, quando se trata de uma ciência como essa, requer interpretação ampla, que questione para além dos resultados simples... Que as coloquem em prática.
Estudem nutrigenética e nutrigenômica, imprint celular, adaptação metabólica... Temas bem completos que nos ajudam a entender que não é "saindo da dieta um dia, um final de semana, umas férias", que se "jogará tudo fora"! 


Pesquisem.
Mais informações. 
Aquelas mais difíceis de acessar, inclusive intelectualmente. 
Aquelas que duvidam das dietas "nutrients-free", e da privação constante de calorias.
Quem pesquisa sério, deve considerar que resultados em laboratório, de acordo com a "expectativa fisiológica", às vezes são diferentes quando avaliados na prática, fora do estudo controlado. 
Me parece um absurdo eu ter que escrever isso, mas... Na vida do homem, o consumo alimentar não é apenas para que ele se mantenha vivo: comer é social, cultural, motivo de prazer... O ratinho no laboratório, a placa de petri e os estudos bioquímicos podem nos trazer certezas, mas... E quando colocados em prática, será que tudo aquilo é viável? Será que consideramos que, na vida real, temos festas de final de ano, férias, bombons de namorado, bolo de vó, vinho com a esposa e uma vida cheia de sabores? 
Hum... Se acostumar o corpo a viver sem tudo, sempre, como será quando quisermos provar a vida? 
"Todo o esforço irá embora em uma semana de férias"? No carnaval? No final de semana? Em um dia?
Uau... Estudem, pesquisem... Tem muito mais além.

Sejam menos mandões. 
É, será que já passou na cabeça de um profissional que prescreve dieta (não só do nutricionista, afinal, mesmo que sendo atividade privativa da classe, tantos são os médicos e demais "profissionais de academia" que o fazem...) que aquilo que você indica será balizador da vida de outro alguém? Que você estará vivendo numa boa, nem lembrando daquela pessoa para quem prescreveu e ela, possivelmente estará seguindo aquilo que você mandou?
Oras... Me parece que isso requer respeito, não? 
Peça licença a seu paciente/cliente, explique olhando nos olhos dele, pontuando com destreza. Estudem, pesquisem, sejam menos mandões, digam menos nãos. 

Sejam mais realistas.
Sabe por que? Porque o mesmo que o cara "não faça dieta, tenha um estilo de vida saudável", possivelmente terá um dia que ele não seguirá à risca, que não tomará o whey, que não comerá frango grelhado, que não escolherá só salada de jantar... E aí? Será que vale mesmo ensinar ao corpo dele que é só "estilo de vida saudável" que ele receberá? 
E quando não for isso que o corpo ver pela frente... Como será o seu comportamento? 
Sejamos realistas: é bacana ajustar a alimentação e mostrar para o organismo quem é que manda e como é que a banda toca, mas é importante lembrar (sim, lembrar o próprio organismo), que não será assim sempre, que terão dias de "pé na jaca", e... Olha só, tudo bem: isso "não vai acabar com todo o seu esforço". Quem ganha na memória celular é aquilo que mais se faz - não um final de semana de churrasco e risadas com os amigos, nem do sorvete gostoso com o filho na praia.

Tenham alma. 
Somos uma sociedade doente pelo corpo. Julgamos as pessoas a partir dele, determinamos muitas relações perante a aparência estética e somos preconceituosos (ao menos nisso) ao extremo. Somos uma contemporaneidade ansiosa, anoréxica, bulímica, vigoréxica, cheia de regras e de culpas. 
É esse o estado que, enquanto profissional (e ser humano), queremos endossar? 
Eu não. Obrigada. 

Então, é isso... 
Sigo convicta por aqui. 
Antes de tudo, acho que vale a pena estudar, pesquisar, ser menos mandona, mais realista e ter alma. 




segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Dieta restritiva não emagrece, envelhece.

Ah, que medo destas dietas cheia de nãos...
A dieta que confia na restrição não trabalha a nossa favor: ela não emagrece, o que consegue fazer, de fato, é nos envelhecer. 

Posso explicar?

Pois bem, quanto não falamos que "com o passar da vida vai ficando mais difícil emagrecer"? Não é que é mais fácil perder peso com 18 anos do que 28? Com 38? Com 48...? 
É, e o culpado disso é o metabolismo. Não é mesmo? 

Então... Isso é uma verdade relativa, mas sim, uma verdade. Em uma interpretação mais profunda, podemos enriquecer essa afirmativa.

Metabolismo é, em palavras simples e de uma forma sucinta, o gasto de energia daquele corpo. O quanto se usa para "funcionar" e o que é guardado para assegurar a vida. De tal modo que, quanto mais se gasta de energia, maior é o dito metabolismo - e quanto menos se gasta, menor podemos considerá-lo.

O que acontece no processo de envelhecimento - em condições fisiologicas, comuns, "normais", esperadas... - é que o metabolismo vai, pouco a pouco ficando menor. Um importante responsável por isso é a diminuição da massa magra desse corpo que envelhece. 

Notemos aqui que, a massa magra (músculos esqueléticos, órgãos e afins...)  gasta bastante energia para que sejam mantidos "vivos". Em uma analogia bobinha: 
massa magra é 5 vezes mais cara para ser bancada do que a gordura corporal. Essa ultima, por sua vez, além de demandar pouca energia para se manter, é ainda sinalizadora de estoque - mostra para o corpo que temos reserva de energia, caso precisarmos.

Durante o envelhecimento, no entanto, a massa magra tende a ir perdendo seu turgor e - literalmente - diminui.
Com isso, o gasto de energia do corpo - a sua demanda - são também diminuídos. Afinal, não era esse o componente oneroso para o corpo? 
Sinônimo disso é dizer que, o metabolismo fica mais lento... 

Seguindo esse pensamento, creio que fica fácil entender que, quanto menos massa magra um indivíduo tiver, menos energia ele gastará - e, então, menos energia ele precisa para ficar vivo. 
Quando o corpo vive com menos energia, o que será que ele faz quando aparece muita energia? 
Ele guarda.
Na forma de gordura.

Então, voltando à dieta restritiva...

Um plano alimentar diminuto, enxuto e privativo, força a perda de peso através da redução do consumo (da entrada de energia).
Quando se oferece menos energia do que o corpo precisa, ele aprende a economizar. 
Ué... Não fazemos isso com nosso dinheiro? 
Uma maneira de economizar é cortando despesas extras, como a massa magra que, como vimos a pouco, demanda um bocado de energia.

E aí... Se a massa magra está menor, como consequência, gasta-se menos energia. O metabolismo fica menor.
Então, de novo, se o corpo vive com menos energia, o que será que ele faz quando aparece muita energia? 
Ele guarda.
Na forma de gordura.
Bem vindo à sanfona-pós-restrição. 

Além de não emagrecer "de verdade", o impacto no corpo vai muito além... Ele vem na forma de um metabolismo mais lento, um gasto menor de energia, maior e "economia de energia" para as funções fundamentais da vida e assim, maior chance de engordar novamente - o típico impacto do envelhecimento corporal, que tanto se fala.

Bacana, né? 

É preciso ser bem responsável na hora de decidir as nossas condutas, porque se não, vamos reclamar de um corpo que "funciona menos", mas quem fez isso com ele fomos nos mesmos. Ou, ao menos, o ajudamos nisso. 

Perda de peso não é emagrecimento. 
Emagrecimento é perda de gordura - difícil de ver na balança, mas bem visível no próprio corpo. 

Dieta restritiva diminui as calorias, as escolhas, o peso (por um tempo), o metabolismo (por um tempão) e a vida (porque viver dizendo não, não é lá muito gostoso...). 




quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Promessas de Ano Novo

Que venham as realizações das promessas de ano novo!

Que sejam desafiadoras, estimulantes e, sobretudo, realistas.
Que tenham mais amor: próprio, pelo outro, pela vida.

Que não tenham dietas do suco, shakes no lugar do almoço e sopas milagrosas.
Que não venham em cápsulas ou pós.
Que sejam saborosas, cheias de cores e perfumes.

Que estás realizações sejam doces, salgadas e  temperadas.
Que tenham menos nãos!
Que busquem a saúde, os sorrisos, os bons momentos...

Que não coloque ninguém para baixo, não diminua os que se permitem relaxar e que não sobrecarregue o dia já cheio de afazeres. 
Que não sejam mais um tópico nas "metas a serem batidas" no ano que começa. 

Que sejam leves e prazeirosas.
Que a culpa jamais prevaleça.
Que o detox seja da alma!

Que os objetivos sejam pessoais - pra você e por você! E que este você seja consciente de que o verdadeiro "foco" é ser feliz! 

Que venham as realizações do ano novo...